domingo, julho 06, 2008

Das estranhezas do Mundo

Eu encostei a cabeça no ombro dele e sem que ele esperasse disse baixinho "o mundo anda muito estranho!". Ele passou o braço por detrás de meu pescoço. Ficamos assim por um tempo. "Posso dormir assim hoje?", pedi depois de uma longa pausa. Concordou, em silêncio. Fiquei pensando no mundo. Na estranheza de certas coisas. Ouvindo a respiração dele. Das estranhezas do mundo surgem coisas inesquecíveis, como eu dormindo com a cabeça no seu ombro depois de tudo. Fiquei olhando o teto do quarto, quase vi um céu azul com estrelas na parede mal pintada. Mundo estanho mesmo. Optei por ficar acordada com receio de que tudo passasse depressa demais. A coisas boas costumam passar depressa demais, sim, eu sabia. E aquela noite... aquela noite eu queria que, de uma forma ou de outra, durasse pra sempre...




Eu não sei quem escreveu esse texto e muito menos lembro de onde eu o roubei. Mas como roubado não é emprestado, faz-de-conta-que-é-meu porque ele foi feito pra ter sido escrito por mim.

É como se esse texto me olhasse e dissesse: "Mamãe!"

Um comentário:

Renato disse...

Deitar a cabeça no peito... um gesto que me cerca, um lugar-comum no qual sou a parte-peito. Como dizem ser bom deitar no meu peito, ouvir o bater longínquo, estacionar o carro pesado do dia-a-dia na garagem protegida e confortável (estacionar o carro com a roda sobre a tampa do bueiro-única-saída), ouvir o bater longínquo, acalentar-se dele (ignorar a cadência do SOS, pra se salvar de si), enrodilhar os pensamentos, agora preguiçosos, nada tenazes, nada ferozes (ronronar, ressonar amiúde, enrodilhar-se sobre a bomba-relógio).
A salvação na beira do abismo. Proteção da projeção da sombra da prancha parada, na superfície de um mar infestado de tubarões.