domingo, abril 26, 2009

Só mais uma coisa,



Ronaldo.

Do que saiu no Plantão da Globo

No milênio passado, ele disse alguma coisa sobre acreditar em uma criança pulando corda na sua frente, como símbolo do infinito. E ela precisou esperar mil anos pra encontrar a hora certa de lhe dizer que eram seus olhos cheios de fé e coragem que davam-lhe forças pra continuar pulando.
"Linhas paralelas se encontram no infinito" (Caio)

Sim, do avesso somos muito mais bonitos.



*

E eu que gosto tanto de escrever pras pessoas que amo e me rasgar em declarações açucaradas, venho aqui pra dizer que, dessa vez, não há muito o que falar. Não que seja falta de carinho, é o inverso disso. É o excesso. O excesso que invade por dentro e vai se apropriando calado dos sentimentos mais intocáveis, aqueles que não se resume em palavras, que não se traduz em frases, que não se explica em porquês. Onde um "Você está bem?" em particular tem infinitamente mais valor do que um "Eu te amo" em público.
Sem estardalhaços ou holofotes. Sem comparações ou provas.
Foi assim que aprendemos a nos gostar. Conhecendo-nos e nos deixando conhecer. Sem pressa. Sem medo.
E hoje, enquanto o resto do mundo tenta empacotar sentimentos em caixas de papelão com adesivos de "Frágil", morrendo de medo de chover nos dias de mudança, eu me preocupo com seu dia todos os dias.
Que venham as chuvas e os dias de sol. E que tragam os nossos abraços-de-braços-tão-limpos.




*

Saudade de antes. Lá do início, quando todo amigo era companheiro.Quando tinha disse-que-me-disse, alarde, confusão, holofotes e caos. Da nossa inocência sacana.
Nossa, eu lembro do frio da barriga. Desespero pra comprar cerveja e cigarro. Tapete, que beleza! De quando ela era superdemais, você era inteligente e eu engraçada. (Pelo menos ainda sou modesta!) Agora que a gente tem uma vida de verdade, cheia de falta de tempo, a gente não vive. Olha que bosta! Mas tá tudo indo bem, caminhando. No meio do caminho sempre tem umas pedrinhas. Eu descobri que ela não é superdemais, você não é a mais inteligente e eu muito menos aengraçada. Mas reclamona eu continuo! Maldita insatisfação insistentedos infernos. In demais. Ai que merda, será que eu to pirada? Hã? Não fumei nada. Nem bebi, juro. Aliás, água mineral Perrier. Num lugar de gente que me enfiam goela abaixo.
Aí que eu lembrei de antes. De como eu posso ser toda torda e errada com vocês, ufa! Parecia que eu tava segurando a respiração embaixo d'água. Como eu gosto de brigar com vocês. Na real, quase tudo acho muito bom quando cês tão perto. Se eu dissesse que é tudo, além de uma mentira gorda, seria muito superfície-volátil-lugar-comum. Ah, olha que eu sou adepta fervorosa de frases-clichê. Ainda mais no mundo em que todo mundo é descolado. Sei lá, você me entendeu. Que orgulho. Que alívio. Pode até ser que vocês não sejam as mais-mais do mundo, mas são as mais fodonas pra mim, se é que isso conta!


*


Ninguém entendeu nosso afastamento, na verdade, nem eu. Eu devo ter feito alguma merda bem grande, ou então me deram ótimos créditos, o que eu sei e sei bem, é que pelo tamanho do amor e pela importância que todo mundo sabe, inclusive meus pais e meus amigos que você nem conhece, que você sempre teve pra mim, foi injusto. A balança deveria ter pesado. Assim como pesou em todas as vezes que eu fiquei magoada com você por algum motivo
Mas como eu disse, eu te respeito, você se machucou, eu me machuquei, mas o carinho tá aqui, comigo. E olha, é muito muito forte, mesmo que você duvide, mesmo que o mundo inteiro diga que não é.
Eu voltei a sair, e tô andando com um pessoal super metido a cult, que conhecem as melhores bandas e os melhores filmes europeus, que andam com roupas estranhas e vão a lugares alternativos, tudo o que eu sempre achei o máximo. E quer saber? Eu sinto a maior saudade do mundo das nossas meninices e do quanto conseguíamos ser ridículas quando estávamos sozinhas enquanto o resto do mundo azul nos achava as fodonas. Eles, os cults, não chegam aos nossos pés. Juro.



Beijo, amor meu.
Obrigada por ser forte.



*


Foi uma ano meio recluso pra mim, em que eu me envolvi demais nesse lance virtual, conheci pessoas e vivi situações inimagináveis. Me apaixonei-eternamente- até-amanhã por pessoas pra quem eu talvez nunca olhasse num bar ou numa festa. Descobri amizade em pessoas que nada tem a ver com o meu jeito de levar a vida e que provavelmente nunca estariam nos mesmos lugares que eu.
No saldo final, a maioria veio e passou assim sem mudar nada, como acontece quase sempre na vida da gente. Mas veio você, lá no comecinho do ano e transformou conceitos e sentimentos meus que eu considerava imutáveis. E foi bom pra mim (...)
No meio de toda a minha inconstância, impulsividade, instabilidade, você conseguiu fincar um lugar que há muito tempo não era ocupado, e que eu realmente achava que ninguém chegaria mais a ocupar. Principalmente por ter sido de um forma tão surreal e limitada. Lugar de incondicionalidade.
As vezes eu tenho vontade de te matar, confesso. E penso: " Puta merda! Como ele é insuportável" . Ou então eu penso:" Pq diabos ele não é o homem da minha vida?". Ou qualquer coisa do tipo. E no fundo eu entendo e aceito que você não é nenhum dos dois sem mudar uma vírgula do meu carinho por você.

Fora o Refrão

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E a vida?
E a vida o que é, diga lá, meu irmão?
Ela é a batida de um coração?
Ela é uma doce ilusão?Mas e a vida?
Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é, meu irmão?
Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo,
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo,
Há quem fale que é um divino mistério profundo,
É o sopro do criador numa atitude repleta de amor.
Você diz que é luta e prazer,
Ele diz que a vida é viver,
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é, e o verbo é sofrer.
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé,
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser,
Sempre desejada por mais que esteja errada,
Ninguém quer a morte, só saúde e sorte,
E a pergunta roda, e a cabeça agita..

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Quem nunca parou de pensar nisso algum momento que atire um tijolo porque pedra tá fora de moda.A vida, aahhhh a vida. É aquela parte boa da música que a gente conta, né? Todo refrão é bonitinho, aquela coisa gostosa que a gente se acostuma e que canta naturalmente, mas e as quinas? Do que seriam as músicas sem aqueles pedaços sem graça e que soam inúteis na melodia? Pois é, mermão. É justamente isso que repara as arestas. Da vida, inclusive..


Ainda assim, com a pureza das respostas das crianças, é a vida.



P.S Texto roubado do Blog Blas Fêmea, de Patrícia-Maria. Um dos blogs mais sacadinhos da estrela.
Quem me dera ser amiga dela, ela parece uma moça genial. Já sei! Acho que vou mandar um convite de aproximação. Quem sabe...


http://blasfemeando.blogspot.com/

Singela Homenagem

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Urso Polar.
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Principais características dessa espécie em extinção:
Habitat Natural: Proximidades do aeroporto de congonhas.
Esporte: Futebol nos intervalos da sinuca.
Time do Coração: Corinthians.
Bebida: Água nos intervalos (2) da cervejinha.
Alimento: Pizza, inclusive no café da manhã.
Vícios: Cigarros e mordidas.
Profissão: Projetar sistemas e arrumar as cagadas alheias, inclusive (2) nos feriados.
Diversão: Botecos nos intervalos (3) dos filminhos em dvd.
Música: Rock e mpb.
Marcas de expressão: Costumam franzir a testa diante de algo surpreendente.
Roupas: Bermuda jeans, camisa-quadriculada-verde e papete.
Acessórios: Óculos de grau super descolado.
Relacionamentos: Eles passam muitos anos acasalando só pra espantar superficialmete o frio, enquanto procuram a fêmea de suas vidas. Aos 29 anos, numa pastelaria do tatuapé, encontram. E casam-se com elas, em uma tradicional celebração do amor, e são felizes para sempre, amém.




Desculpem-me a falta do habitual mal-humor e da tradicional melancolia.

A fase é essa,


Você
Tim Maia

De repente a dor
De esperar terminou
E o amor veio enfim
Eu que sempre sonhei
Mas não acreditei
Muito em mim
Vi o tempo passar
O inverno chegar
Outra vez mas desta vez
Todo pranto sumiu
Um encanto surgiu
Meu amor...

Você
É mais do que sei
É mais que pensei
É mais que eu esperava, baby
Você
É algo assim
É tudo pra mim
É como eu sonhava, baby
Sou feliz agora
Não não vá embora não
Não não não não não
Não não vá embora
Não não vá embora

Vou morrer de saudade

terça-feira, abril 21, 2009

Sim, acabou o feriado prolongado.
Sim, ele foi embora.
Sim, só vou encontrá-lo no próximo fim de semana.
Sim, estou melosa que dá até medo.
Sim, tenho direito a ficar assim até a sensação de gostosinho na alma ser invadida pela sensação de estresse mental.
... E no meio da noite, quando eu decido que estou ótima, afinal de contas tenho uma vida incrível e sou capaz de viver muito bem se você for embora, eu me lembro de umas coisas de mil anos e começo a amar você de um jeito que, infelizmente, não se parece em nada com pouco amor e não se parece em nada com algo prestes a acabar. Lembro de você fazendo o meu café da manhã na primeira vez que dormi na sua casa, de você com os olhos disfarçando um brilho diferente porque o meu cachorro buscou a bolinha e entregou na tua mão me deixando com cara de "mãe-biológica-renegada". Lembro de você querendo fugir do museu de letras porque "eruditismo" demais acaba te sufocando. Lembro da sua mania de me morder e do cheiro que você tem bem no centro da nuca. Lembro de você olhando a bunda da minha amiga e logo depois me dando um abraço forte e dizendo “os textos que você escreve são tão lindos, meu amor”. E lembro da primeira vez que eu te vi e te achei meio fresco, comportado, estranho. Até que na segunda vez você me apertou com força e por razão nenhuma eu tive certeza que meu filho nasceria um pouco fresco, comportado e estranho. E então, no meio da noite, enquanto eu penso tudo isso, eu pergunto ao mundo todo que não agüenta mais esse assunto: - Porque diabos você não me dá um, um único motivinho que seja, pra eu acreditar que existe vida-pós-o-teu-amor?



Adaptado e com as devidas licenças poéticas a Tati B.
Você me transformou no eufemismo de mim mesma, me fez sentir a menina com uma flor daquele poema, suavizou meu soco, amoleceu minha marcha e transformou minha dureza em dança. Você quebrou minhas pernas, me fez comprar um vestido novo, tirou as pedras da minha mão. Você diz que me quer com todas as minhas vírgulas, eu te quero como meu ponto final.

Pro resto do mundo esse é um trecho da Tati Bernardi.

Ele sabe que agora é meu, entregue nas mãos dele.
E toda vez que ele cruza o portão que separa a minha casa do resto do mundo, eu ainda sinto doer como se fosse a nossa primeira despedida.
Só confio em homens de óculos.

E não aceito questionamentos.
Quando vem a primeira queda, o nosso mundo acaba por alguns instantes, algumas horas, alguns dias, ou pelo tempo que levamos pra levantar. A dor é desumana, gigante, absurda, como se arrancassem cada centímetro da nossa pele e nos deixassem apenas ossos e sangue sob nossos orgãos desprotegidos e expostos. O primeiro pensamento é de fim, como se tudo que construímos e que nos tornamos antes da queda tivesse, finalmente, se transformado em fumaça. Passamos a vida, "pessimistamente", esperando isso, o dia em que tudo vira fumaça.

Mas aí a gente levanta, algo sempre acontece pra nos sentirmos obrigados a sair da posição confortável do "não tenho mais nada, não espero mais nada" e a gente volta a caminhar. É difícil reaprender a andar depois da primeira queda, mas é do ser humano a superação.

Aí quando começamos a reconstruir das cinzas uma nova estrada, vem a segunda queda. Essa costuma ser menos dolorida, menos o fim do mundo, é a queda que já esperávamos, que já sabíamos que um dia viria, e já conhecíamos a devastidão que ela seria capaz de causar. É a famosa dor conhecida. Você sabe onde dói, sabe o quanto dói e sabe que vai superar. Doença antiga, que não se pode evitar, quase uma amiga de colégio.

Não que seja fácil superar a segunda queda, só estamos mais preparados pra todo o estrago que ela causa. A volta por cima costuma demorar menos.

Aí vem a pior parte, a terceira queda. Não deveria ser a pior, mas é. É aquela sensação que quase já faz parte da nossa identidade. Sabemos tudo sobre ela, inclusive os motivos que nos levaram a cair. Somos capazes de fechar os olhos e saber exatamente onde está cada ponta da ferida. De saber quais passos nos levaram para o buraco, em que momento nos posicionamos em frente ao precipício.

Por nos sentirmos tão intímos da terceira queda, nos proibimos de sofrer toda a dor que ele trás. Estamos tão calejados que sentimos vergonha de gritar, chorar, mesmo que a dor continue sendo a mesma das outras quedas, pelo medo idiota de parecermos fracos e repetitivos. E engolimos o sofrimento como se tívessemos cancer e tomassemos um anti-ácido pra resolver o problema.

E aí, meu amigo, aí acontece a merda toda. A dor mais latente é aquela que não nos permitimos deixar doer. A fuga da dor só mascara o tamanho da ferida. E feridas abertas costumam ser ninhos de moscas.

segunda-feira, abril 20, 2009

Corinthians 2 x São Paulo 0

19/04/09.





Ordem cronológica dos fatos:














P.S 1 : Antes do jogo, o diretor do são paulo disse que o Ronaldo era um ex-jogador.

P.S 2 : Logo após o gol do Ronaldo, a camisa do são paulo foi rasgada e lançada ao chão por um são paulino. Não tenho nada com isso, só fui solidária e ajudei no propósito do rapaz.

P.S 3 : Rodrigo, 27 anos e são paulino, no começo relutou em posar com a camisa do corinthians.

P.S 4 : Rodrigo, 27 anos e são paulino, adorou a experiência de vestir a camisa do corinthians. (Taí o sorriso dele que não me deixa mentir)



P.S 5 : Poropopó pó pó pó pó


Contra fatos não há argumentos.


A defesa encerra.

domingo, abril 12, 2009

Sim, gostei da idéia de colocar fotos no meu blog.

Minha caixinha de lápis de cor

verde-de-esperança



preto-de-pra-sempre


marrom-de-volta-por-cima




amarelo-de-força

rosa-de-feminilidade




laranja-de-coragem





cinza-de-estrada





bege-de-glamour







lilás-de-riso








branco-de-paz









azul-de-confiança










rosa-choque-de-impacto










vermelho-de-paixão


Do colorido dos dias.







































Eu tenho amigos espalhados por toda a parte do país, e ao mesmo tempo, são pessoas que estão mais perto de mim do que meus vizinhos de bairro. E por mais que haja pedras no meio do caminho (maldito Drummond), toda vez que eu os encontro é como se fosse a primeira vez.

sábado, abril 11, 2009

Enquanto houver burguesia não vai haver poesia.



Só me bastaria ter escrito esse verso, e eu me contentaria em nunca mais escrever nada. Juro.

Cazuza, seu puto safado!
Airton diz:
preciso te contar... vi a mulher da minha vida hoje, perto do metrô conceição, na calçada, esperando pra atravessar a rua... passei de carro, quase bati no carro da frente... muito linda ela...

Fernanda diz:
jura?

Airton diz:
é

Fernanda diz:
e vc não desceu do carro e subiu no "capô" pra se declarar pra ela?

Airton diz:
eu só apontei pra ela e disse que a amava

Fernanda diz:
olha que dizem que essas situações de amor a primeira vista só acontece uma vez na vida, e você sente nos primeiros 3 segundos

Airton diz:
mas acho que ela esperava mais

Airton diz:
não sei.





Não esperava não. Ela achou lindo, achou o gesto de amor a primeira vista mais lindo do sistema solar, mesmo que tenha sido com quase cinco meses de atraso. Mas como é de costume, ela se fez de durona, e talvez espere mais cinco meses pra dizer que, naquele momento, pensou: "Fodeu!", no mesmo tom de cinco meses atrás, quando sentiu que tinha se apaixonado pela útima primeira vez.

sábado, abril 04, 2009

Eu tenho uma coleção de guarda-chuvas coloridos. Eles ficam em um porta guarda-chuvas no meu escritório. Tem roxo, laranja, vermelho, branco, tem um transparente que fica lindo molhado e tem um preto também. Se um dia a gente tiver que andar pela Rua Augusta, ou mesmo aqui no centro, se um dia isso acontecer e a gente tiver que dividir o guarda-chuva novamente, eu juro que deixo você escolher a cor. Mas se isso não voltar a acontecer eles ficarão aqui, secando a chuvinha que cai dos meus olhos-verdes-trovões-de-saudade.


Da Fernanda D'Umbra.

E tem tempo pra caralho que eu acho esse trechinho o charme do mundo.

Tenho como provar! (By Patrícia-Maria)

quinta-feira, abril 02, 2009

Pergunta de impacto do dia:

"Sua cartilha tem o A de que cor?"
E foi assim, ó

Eu tava numa fase forte de noites de divina e cafés da manhã de maquiagens borradas com Martina e Gabi. Aí, veio o Rodrigo me chamando pra assistir a final do São Paulo lá na puta que o pariu do Tatuapé. Era domingo, dia mundial de não aprontar nada que te deixe estragado no dia seguinte, mas tinha cerveja gelada aí eu fui, mesmo sendo corintiana. Culpa da minha fase "Tô nem aí", oras.

Aí, no meio de uma porrada de coisas inusitadas e bizarras ocorridas no bar durante o jogo, eu o vi. Ele não me viu, a maldita desatenção é a marca registrada dele, fazer-o-que?, assim como a minha insistência, e óbvio, olhei mais uma vez. Mas foi aquele olhar de mulher que não quer compromisso, que só acha gostoso encarar pra ver qualéqueé, pra curtir uma tarde de domingo sem boas intenções. Culpa da minha fase "Tô nem aí", oras. (2)

Só não pensei que talvez essa não fosse a mesma fase dele. Eu já disse que, as vezes, só o impulso salva-amém?

Pois.

Entre mortos e feridos pelo jogo, ele veio falar comigo, e pasmem!, quando eu esperava um "E aí gatinha, tá afim de ficar comigo?", ele chegou falando de música, cacete. Meu ponto fraco-forte. O curto papo em pé na calçada de um boteco sujo do Tatuapé foi bacana, confesso, mas eu não tava no clima de levar nada bacana adiante. Culpa da minha fase: "Tô nem aí", oras. (3)

Mas, in ou felizmente, meus pais me ensinaram a arte da boa educação, e num espasmo de obediência ao papai e a mamãe, o chamei para sentar comigo na mesa dos meus amigos. Nessa hora eu pensei "Bom, se existe alguma chance de rolar algo, vai acabar agora. Meus amigos são chatos demais com gente nova no pedaço, é por isso que são meus amigos." Mas o tiro saiu pela culatra. Em menos de meia hora ele já parecia mais amigo dos meus amigos do que eu. Merda!

Ele pediu meus números de telefone. E me fez repetí-los para ter certeza de que eu estava dando os números corretos. E agora?

Comecei a falar sobre política e religião, exatamente os assuntos proibidos num primeiro encontro. Ele tinha um jeito de burguesinho-cristão, nada melhor que enfatizar meu lado socialista-ateu. É, nada feito. Ele conseguiu manter o nível da conversa, sem perder a calma nem por um segundo, e o pior, parecia absurdamente interessado nos meus pontos de vista.

Bom, só havia uma última saída, usar todo o meu drama e dar um xilique típico de meninas mimadas que querem chamar a atenção. Criei uma cena e fui embora do bar, deixando-o falando sozinho na mesa. Nenhum homem suporta isso. É, ele suportou. E riu a risada mais carinhosa do mundo quando me viu voltando pra perguntar porque ele não tinha vindo atrás de mim.

Eu fiquei. Meus amigos foram embora e eu fiquei. Fiquei com ele. Mesmo querendo não estar nem aí, alguma coisa que eu não sei o que é até hoje, me fez ficar. Na volta pra casa me perdi, cheguei quase as 4 da madrugada de segunda, pronta pra acordar as 7. Eram três horas de sono, eu sabia. Mas e quanto as horas de espera, quantas seriam?. Será que ele vai ligar? Quase não deu tempo de sofrer por isso, antes de chegar em casa ele já havia me mandado a mensagem mais doce que uma pessoa bêbada poderia mandar pra alguém.

Eu juro que tentei bancar a desinteressada, tentei arrajar mil defeitos, mil pedras no caminho, mil problemas na minha vida. Tudo pra ele desencanar de me ver novamente e eu continuar a minha saga do "Tô nem aí", oras. (4)

Mas quando o vi pela segunda vez, no fim de semana seguinte, teve um momento em que a única coisa que eu conseguia pensar era "Fodeu!", lembro perfeitamente em qual instante eu tive a certeza de que eu não conseguiria mais afastá-lo da minha vida. Não por insistência dele, mas pela minha vontade de tê-lo ao meu lado.

E desde então, naquele bendito instante daquele bendito segundo encontro, eu quase morro toda vez que eu lembro que o meu arrogante "Tô nem aí", oras. (5) quase me fez perder o direito de reclamar das mordidas mais docemente irritantes que eu já levei na vida.