quarta-feira, dezembro 31, 2008

Música do Ano. Escolhida aos 45 do segundo tempo.

Galho Seco
Zé Geraldo

Quando um homem chega na encruzilhada, olha pra um lado é nada, olha pro outro, é nada também. Aí, aí, o céu escurece, o céu desaba e tudo se acaba. Mas quando tudo tá perdido na vida, só quando tudo tá perdido na vida, é que a gente descobre que na vida nunca tudo tá perdido, minha flor.

Eu andava acabrunhado e só
Perdido e sem lugar
Feito um galho seco
Arrastado pelo temporal
Pensei até em enrolar minha bandeira e dar no pé
Eu pensei até em jogar fora a minha história, os documentos e aquela fé
Fazia tempo que o sol não derramava luz na minha vidraça
Depois que tudo passa
O vento leva as nuvens negras noutra direção
Também pudera
Uma hora era o fogo que rasgava o chão
Outra hora era a água que descia e afogava toda a plantação

Ainda bem que me restou o seu sorriso
Que me alumia a alma
Que me acalma quando é preciso

E como eu preciso!
E como eu preciso!

Que me acalma quando é preciso
E como eu preciso!
E como eu preciso!



http://www.youtube.com/watch?v=DsGdLBRQSEg

terça-feira, dezembro 30, 2008

As palavras mais belas da língua não são "Eu te amo".
São: "É benigno".

(Woody Allen - Desconstruindo Harry)


Papai já está em casa. Vamos ter ano novo.

domingo, dezembro 28, 2008

É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e suspiro,
de palavra indireta, aviso na esquina.
Tempo de cinco sentidos num só.


Drummond.



Porque hoje eu acordei assim-assim, de versos gritados e concretos.
(...) Olham-se, mas não se vêem. A escuridão não é uma parede, mas o silêncio os imobiliza na busca da palavra maior. Os dois fumam. As pontas acesas desvendam o escuro, e por instantes colocam um brilho avermelhado nas pupilas de ambos. Perguntou se eu queria ouvir música. Não, eu disse sem pensar. Então ele calou como se tivesse ficado ofendido por eu recusar alguma coisa sua. Desconhecidos: como isso é, a um só tempo, terrivelmente bom e terrivelmente assustador. Pensar que eu estava só, no bar, esperando nem sei que, nem sei sequer se esperando: de repente os olhos me buscando no balcão em frente. No primeiro momento foi a única coisa que percebi. Os olhos, atrás da fumaça, no meio das gentes. E o espelho refletindo o meu espanto. Depois vi os cabelos, a boca, os ombros. Mas era nos olhos, só nos olhos, que se fixava aquele mudo apelo, aquele grito. Nem sei. Aquela clara maldição.

Saí, saiu. Não dissemos nada. Eu só tenho esperas. Ele traz a tranqüilidade de mais nada esperar. Um menino. Aquele ar espantado. Um pouco trêmulo. Cigarro atrás de cigarro. Tenho medo de tocá-lo. De quebrá-lo.

Eu disse: "A lua está tão bonita que dói por dentro". Ele não entendeu. É tudo tão bonito que me dói e me pesa. Fico pensando que nunca mais vai se repetir, é só uma vez, a única, e vai me magoar sempre. Não sei, não quero pensar. Neste espaço branco de madrugada e lua cheia, preciso falar, e mais do que falar, preciso dizer. Mas as palavras não dizem tudo, não dizem nada. O momento me esmaga por dentro. O espanto esbarra em paredes pedindo exteriorização.Você vê? As pedras parecem luas também. Ou estrelas, ele diz. Chão de estrelas. Vamos pisar nos astros distraídos? Ele ri. Nesse segundo cheio de riso alguma coisa se adensa. Nossos pés pisam em pedras. Mas por cima dos sapatos, sinto que são frias e duras, e sei que seu significado está em nós, não nelas.

(...)

Então ele me olha sério, por um instante abalado, depois ri. Positivamente o cinismo não fica bem em você. Um menino assustado querendo mascarar o medo com a agressividade. Um menino. Curvo-me para ele. O rosto dele próximo do meu. Mais adivinho do que vejo os seus olhos deslizando pelas órbitas. A sua mão toca no meu ombro, sobe pelo pescoço, me alcança a face, brinca com a orelha, alcança os cabelos. O seu corpo cola-se ao meu. A sua boca vem baixando devagar, vencendo barreiras, colando-se à minha, de leve, tão de leve que receio um movimento, um suspiro, um gesto, mesmo um pensamento. Estou em branco como a noite. Ele me abraça. Ele está perto. Ergue o braço lentamente, afunda as mãos nos cabelos de outro. E de súbito um vento mais frio os faz encolherem-se juntos, unidos no mesmo abraço, na mesma espera desfeita, no mesmo medo. Na mesma margem.

( Meio Silêncio - Caio Fernando)


E eu começo, séria-e-assustadoramente, a desconfiar que Caio só escrevia na presença de uma bola de cristal focada na minha vidinha-sacana.
Que eu ando mais fragilizada, todo-mundo-do-meu-pequeno-mundo-particular já sabe.
Que eu ando revendo velhos conceitos, todo-mundo-do-meu-pequeno-mundo-particular já sabe.
Que eu ando menos infantil, neurótica e barraqueira, todo-mundo-do-meu-pequeno-mundo-particular já sabe.

O que algumas pessoas ainda não sabem é que eu ando sentindo uma puta falta daqueles que eu deixei ir embora do meu-pequeno-mundo-particular.

Não sei se é correto usar o plural pra disfarçar a singularidade do pronome imposto na ausência, mas pra jogar a real, talvez nem seja correto estar escrevendo isso aqui, em público. E por se tratar de uma pessoa com senso de justiça gigante, prefiro fingir que finjo o fingimento.

A verdade é que eu ainda preciso aprender uma porrada de coisa na vida, voltar atrás e pedir desculpas encarando nos olhos, é uma delas. Um pouco menos de orgulho me cairia bem. Um pouco mais de coragem me cairia melhor.

O mais difícil é sempre o primeiro passo depois de perceber que o caminho está errado. Não é preciso ser nenhum filósofo, gênio ou cartomante pra saber disso. Mas o lance é que inda não me sinto preparada pra reabrir velhos baús que ficaram perdidos no meio da estrada, o que não me impede de sentir-me arrependida por tê-los deixado "empoeirar".

Não se pode apagar o que ficou pra trás, nem as coisas boas, nem as coisas ruins. Pode-se sempre reconhecer a existência e a força de uma história. E sentir saudade de quando o verbo ainda era recitado no tempo presente.

Hoje eu senti saudade de um amigo (Existe ex-amigo?).
Hoje, olhando o blog de um outro amigo, sem querer, eu me deparei com um texto que ele escreveu sobre a luta e vitória de uma pessoa que já foi (e ainda é, só que de outra forma) muito importante na vida dele.
Hoje, só hoje, eu percebi o quanto ainda o conheço bem, e que certamente ele me entenderia, se tivessemos conversado sobre o que nos afastou naquela época.
Hoje, relembrando tudo o que aconteceu, me sinto uma completa idiota por ainda não conseguir domar a merda dos pés e dar o primeiro passo.
Hoje eu descobri que ainda sinto um puta orgulho da força dele diante da vida fodida e cheia de armadilhas.

E eu sei que, por todo o nosso tempo de silêncio, dizer isso a ele, doeria.
Não dizer, dói muito mais.



Talvez amanhã seja um novo hoje, talvez um dia.
Listinha de coisas quase imperdoáveis que só os homens fazem por você:

1- Olhar para a bunda de outra mulher enquanto diz que te adora sentado de frente pra você numa mesa de bar.

2- Dizer "Que bom!", efusivamente, quando você diz que emagreceu alguns quilos.

3- Dizer, no meio de um papo sério, que você é uma pessoa altamente zuável e que ele se controla pra não tirar uma com sua cara várias vezes durante o dia.

4- Negar um beijo no meio do bar lotado, mesmo que para isso, ele tenha que se debruçar sobre a mesa cheia de garrafas de cervejas.

5- Tocar sempre no assunto "ex-namorada". Sempre a mesma ex, do primeiro ao quinto encontro.

6- Não acreditar no que você diz, mesmo que você já tenha repetido mil vezes que não faz mais aquilo que você fazia aos seus 17 anos.

7- Bancar o difícil no fim da noite e parecer um iceberg ao teu lado no carro, enquanto você transpira larvas de vulcão.

8- Gravar dois cds pra você, com mil músicas em cada um, e esquecer justamente a que você mais gosta. Exatamente a que te faz lembrar dele.



*



Entre outras coisas que seriam imperdoáveis-sem-quase, não fosse a voz canalha de Carpinejar soprando no meu ouvido que uma mulher perdoa tudo em um homem, menos que ele não a ame com coragem.









'
Qualquer semelhança com meu relacionamento será mera coincidência. Juro.

sábado, dezembro 27, 2008

Réplica

Há de ser sempre autêntico no que se faz, diria John Lennon, se estivesse vivo.

Algumas pessoas têm o dom de fazer das suas vitórias uma coisa desinteressante. Outras fazem de seus fracassos uma volta por cima na próxima esquina, cheia de charme.

Fracasso é o meu natural, em se tratando de perder apostas, eu diria que é a minha característica mais forte. Corintiana de sangue e sobrenome, invariavelmente puta da vida com a ostentação da burguesia ("A Burguesia Fede", abraços ao Cazuza no além), frustrada no trabalho e odiadora de shoppings..

Voltando ao relato,
Por conta de uma aposta, fui assistir o último jogo do São Paulo com dois amigos, Rodrigo e Talita, numa casa de Pastel no Tatuapé. A minha náusea de pastel só não é maior que minha aversão a shoppings. Escolha por escolha, o meu vício de poder fumar livremente falou mais alto. E fui eu lá, numa casa de pastel botar fé no Goiás, um time verde.

Enfim,

Nada colaborava pra que aquela tarde de domingo fosse a exceção à regra. E não foi.

Durante a tarde, "havia uma louca de pedra no meio do caminho, no meio do caminho havia um louca de pedra" ( Abraço também ao Drummond, que se tivesse conhecido a tal da Liliane, certamente acrescentaria o "louca" antes da pedra).

Enfim (2),

Como eu ainda não consegui merecer a minha canonização, e estava prestes a ser obrigada a me enrolar na bandeira do (ecat) São Paulo, tinha todos os motivos reais pra ser extremamente grossa com qualquer pessoa que cruzasse meu caminho, incluindo desconhecidas loucas que insistiam em falar de amor enquanto eu estava interessada apenas em futebol.

Com toda a minha delicadeza e doçura de mulher que já havia bebido umas 5 cervejas e estava prestes a pagar o mico do século, acabei por fazer com que a louca fosse atrás de outras vítimas. Pensando bem, ela nem devia ser tão louca assim, já que saiu da nossa mesa pra ir sentar-se na mesa mais "interessante" do bar. Obviamente que eu fiquei encarando a mesa-vitima da louca não por causa da louca, e mais obviamente ainda que, qualquer coisa, eu tinha a desculpa de estar observando qual seria a próxima que a louca aprontaria.

Não precisei dar desculpas, só precisei sentir o estômago embrulhando na hora que o bar inteiro ensaiou um coro do hino do (ecat) São Paulo, e ir pra rua dar uma respirada.

Voltei pra mesa, uns 15 minutos depois, muito bem acompanhada por um cara tipo burguês/tipo macho (é, o antônimo de burguês é macho, juro), que prometeu nunca na vida falar de política comigo. E desde então, até hoje, nunca brigamos por causa do Fernando Henrique Cardoso.

Enfim (3),

Saí de casa, na esperança de ver o Rodrigo com a camisa do Corinthians, e acabei tendo que me cobrir com a bandeira do São Paulo.
Saí de casa, totalmente "futebolística" e voltei meio assim, "e até quem me vê lendo o jornal na fila do pão", do Los Hermanos.

É, Rodrigo, eu sou um fracasso. Uma pessoa que quase cumpre o script, não fosse as cervejas e a bendita vontade de sempre apostar pra ver.

São Tomé tinha razão.


Azar no jogo, sorte no amor, dizem...




Texto-Réplica ao "Frêcasso", do blog mimself do Rodrigo-José, meu inimigo mais íntimo.


http://mimself-jan.blogspot.com/2008/12/frcasso.html?showComment=1230400860000#c1966219762012231803

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Hoje é véspera de natal.
Dia de ficar mais emotiva, mais paciente, mais amorosa, mais mais mais, dizem.

Eu acho isso tudo uma grande bosta. Não que eu seja darkérrima, uma puta mulher insensível, ou cult o suficiente pra entrar na moda da "deprê de natal". Só não gosto das comemorações fakes e do clima forçado e ponto. Posso apenas não gostar de algo sem que pra isso ocorra a terceira guerra mundial e a primeira invasão alienígena não-cinematográfica? Grata.

Vou passar a ceia no hospital, pela primeira vez sem barulho, só eu e a pessoa que eu mais amo no mundo. Talvez eu passe a ver a data com mais carinho depois dessa noite crua de sentimentos verdadeiros, talvez eu passe a ter motivos reais pra odiar a data depois dessa noite preocupante de aflições verdadeiras.

Uma coisa é certa: Não passo imune ao natal esse ano. E qualquer que seja a impressão que eu vou levar de hoje pros próximos 75 natais, espero que as chaminés, ao menos, sejam limpas.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

(...) mas eu não via mais ninguém além dele. Eu já o tinha visto antes, não ali. Fazia tempo, não sabia onde. Eu tinha andado por muitos lugares. Ele tinha um jeito de quem também tinha andado por muitos lugares. Num desses lugares, quem sabe. Aqui, ali. Mas não lembraríamos antes de falar, talvez também nem depois. Só que não havia palavras. Havia o movimento, a dança, os corpos meu e dele se aproximando mornos, sem querer mais nada além daquele chegar cada vez mais perto.

(Terça-feira gorda)

Do Caio.

Pra quem tem feito do olho do furacão uma brisa de uma tardezinha de outono.

domingo, dezembro 14, 2008

Cervejas. Futebol. Acaso. Conversas.
Músicas. Coincidências. Conversas.
Beijos. Abraços. Conversas.
Mensagens. Ligações. Conversas.
Sintonia. Química. Ritmo. Conversas.
Mercado. Barrinhas de cereal. Iogurte. Conversas.



Mas não era pra ser assim. Não era pra ser tão simples. Tão natural. Tão "Vamos Indo".



Eu não admito conseguir me sentir segura perto de alguém que me faz tão bem. Talvez algum masoquismo emocional possa explicar esse lance de identificação com barras pesadas e complicações, mas a verdade é que ele me olha de um jeito doce e muda todo o panorama que eu demorei 24 anos pra construir. E eu fico parecendo uma criança assustada na primeirda ida ao parque de diversões.



E me irrita que ele seja tão leve, tão "não se peocupa, eu cuido de você", tão sem desespero. E me irrita que ele goste tanto da minha companhia. E me irrita que ele me respeite acima de qualquer coisa. Porque eu tava esperando alguém que me sacaneasse. Alguém que não tivesse muito aí pros meus problemas. Alguém de "se". E ele chega e chuta todos os meus grilos e minhas expectativas de frustrações pra puta que o pariu quando diz "Fe, conversa comigo". E me tira o direito de fazer bico e ir embora achando que todos os homens são uns idiotas e que a vida é assim mesmo e que eu mereço, eu mereço, eu mereço...



Eu acho um saco esse lance de não conseguir ser dramática, mas ele não deixa. Eu acho um saco esse lance de não conseguir complicar as coisas, mas ele não deixa. Eu acho um saco esse lance de não conseguir achá-lo um idiota, mas ele não deixa. Eu acho um saco esse lance de não conseguir achar que meu destino é quebrar a cara 8 vezes por semana, 32 dias por mês, 367 dias por ano, mas ele não deixa.



E ele, que não deixa tanta coisa, foi me deixar, justamente, começar a achar que esse lance de amor até que me cai bem.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem noir. Mas isso é filme, ele não. Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui quase toda noite. Não por você, nem por outros como você.

Pra ele, me guardo.

(Dama da Noite- Caio Fernando Abreu)