domingo, novembro 23, 2008

Estou passando por uma das fases mais doloridas e difíceis da minha vida. E não há nenhum drama ou exagero nessa afirmação.
O que me faz prometer nunca mais reclamar das minhas dores que passam com analgésicos e das minhas crises existenciais que passam com tapas na cara quando a tempestade passar.

A vida é dura pra caralho, mas se torna doce quando se tem amigos pra ajudar a segurar a barra.
E descobri, nesse meio tempo, que sozinha eu não consigo nada , nem atravessar a rua sem tremer as pernas.

Entre tantas pessoas que me surpreenderam positivamente esses dias, agradeço em especial à Paty, Rodrigo, André, Paulo, Danilo e Priscila. Pela força, pelo carinho, pelos conselhos, pelo cuidado e por tudo que eu precisava pra continuar encarando de frente a situação.

Sem eles, nada.

domingo, novembro 16, 2008

Estou A-P-A-I-X-O-N-A-D-A!

Juro. Apaixonadissima.

E tudo estaria indo muito bem não fosse um detalhe... Ele não me conhece, quer dizer, nem eu o conheço. Eu só sei das coisas do caralho que ele escreve.

Estava eu, tranquilamente em frente ao computador pesquisando sobre filosofias inadequadas (sim, sou apaixonada por ficar em casa sem fazer nada tentando encontrar humor em coisas extremamente mal humoradas por natureza) e me deparo com o blog do cara relacionado a esses temas adoráveis. Como eu sou uma pessoa muito ocupada, principalmente aos domingos, resolvi entrar, puxar uma cadeira e me servir de café.

De cara já abri num puta texto do cara sobre psicologia de resultados. Texto com aquela pitada de humor disfarçado de indignação canalha, aquela coisa de malandro que te olha de canto de olho pra que ninguém mais perceba, além de você, óbvio, que ele está olhando.

E assim passei 5 horas gozando no pau literário do cara. Texto por Texto. Linha por linha. Palavra por Palavra.

Não sei nada sobre ele, a não ser que é um jornalista-desconhecido-pseudo-burguês-classe-média-contemporânea-branquelo-gigante-por-natureza-palmerense-e-inimigo-do-(ecat)PSDB, segundo descrições do próprio. Tem maior contradição que isso? Não, não tem. Por isso me apaixonei. Porque ele é um absurdo. (Alô, alô, Patrícia, aquele abraço!)

Ele se sabe ridículo e tá se lixando pra isso. E acha graça dele e das pessoas iguais a ele. E tira sarro dos imbecis que não percebem que são imbecis.

E o melhor, ele não sabe nem que eu existo (o que lhe dá um certo ar blasé na minha visão pura de mulher apaixonada), quiçá, que estou neste momento, muito bem comida por suas palavras cheias de sacanagens e putarias "verborrágicas".

E certamente vai morrer lutando pela liberdade de expressão irônica e debochada sem saber que eu me apaixonei por ele, e que escrevi um texto em homenagem a esse amor-eterno-amor neste 16 de novembro de 2008 (E certamente, com o passar dos anos, eu vá morrer negando isso)

É isso. E ele ainda se chama Fernando (Se eu soubesse desenhar corações aqui, essa era a hora). E ele ainda conhece os poemas de Drummond. E ele ainda é Um Romântico. E ele ainda joga tudo no mesmo saco, mata o gato e tira o coelho da cartola:

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João virou tucano, Teresa agora é lésbica, Raimundo tornou-se porteiro no centro, Maria tem depressão da meia idade, Joaquim morreu de cirrose e Lili está fazendo amor com outra pessoa, mas meu coração vai ser para sempre seu. (Carlos Drummond e Alexandre Pires)


Eu te amo, Fernando Vives!

Ou pra homenagear o momento "Eu bebo sim e estou vivendo, tem gente que não bebe e está morrendo" de Patrícia-Maria:

Fernando Vives Rules!

domingo, novembro 02, 2008

Eu tenho um pai apaixonado por fórmula 1. O que me fez, desde pequena, criar o hábito de acordar cedo aos domingos pra assistir as corridas e me interessar por esses lances de velocidade e tal.

Hoje o Massa perdeu um campeonato mundial na última curva. ÚLTIMA CURVA, puta que o pariu. Questão de segundos e tal. Uma corrida que já começou praticamente perdida e que foi até a última curva com enormes possibilidades de "vai dar".

E eu fiquei lá, pulando em frente a TV feito uma retardada na última volta. Não deu, mas foi bem bacana ver pessoas que dizem por aí que fórmula 1 é o esporte mais sem emoção do planeta, com os olhos arregalados e a boca aberta. Isso foi bem melhor que ver o Galvão se fodendo. Juro.


E eu, que sempre derrapo nas curvas da vida, agora tenho um bom motivo pra dar mais dramaticidade ao meu trauma.





Ah, meu pai é corintiano doente também. E ateu convicto.


Heranças.
Eu poderia ter parado, sabe?

Poderia ter parado quando ele usou aquele maldito plural. Ou quando ele me disse de forma clara que não havia problema algum em sermos "amigos". Ou quando ele me diz não saber quando vamos nos falar novamente.

Eu poderia parar agora que eu tô lembrando de todos esses sinais que disparam o botão de "alerta". Mas todas as vezes que eu estou abrindo a porta da rua pra ir embora, dou uma olhadinha pra trás, e ele está lá, acenando e sorrindo, sem me cobrar nada, sem esperar nada, sem me pedir pra ficar. E eu fico. Fico exatamente por isso. Por que não me sinto obrigada a ficar, não me sinto obrigada a corresponder expectativas, não me sinto obrigada a ser porto seguro de ninguém. E essa é a merda toda. A leveza dele desmonta a minha intensidade. A doçura dele vence a minha agressividade. A calma dele cala a minha urgência. E eu fico só mais hoje. E tem sido hoje todos os dias.

E eu continuo fingindo que tá tudo bem, mesmo sem saber fingir que tá tudo bem. E ele continua fingindo que acredita no meu fingimento, mesmo sem saber fingir que acredita no meu fingimento. E assim, fingindo daqui e dali, o tempo inteiro estamos sendo honestos, do nosso jeito torto, com a vontade que temos de estarmos perto sem dependências.

E talvez por isso, esse seja um dos lances mais "de verdade" que eu já senti.
E talvez por isso, esteja sendo tão difícil fechar a porta.





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É, eu também só me equilibro no excesso, Clarah.
Mas dessa vez, só dessa vez, eu aceito ir tateando.
A falta de calma dos meus olhos já basta para derrubar um batalhão, não preciso de mais do mesmo. Algumas vezes só quero conseguir fechá-los num ombro que me faça parar.

Eu não prefiro nada, simplesmente vou se acho que devo. Com ou sem certeza.













































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sábado, novembro 01, 2008

Natureza Viva

Como você sabe, dirás feito um cego tateando, e dizer assim, supondo um conhecimento, faria quem sabe o coração do outro adoçar um pouco até prosseguires, mas sem planejar, embora planejes há tanto tempo, farás coisas como acender o abajur do canto depois apagar a luz mais forte, criando um clima assim mais íntimo, mais acolhedor, que não haja tensão alguma no ar, mesmo que previamente saibas do inevitável das palmas molhadas de tuas mãos, do excesso de cigarros e qualquer coisa como um leve tremor que, esperas, não transparecerá em tua voz. Mas dirás assim, por exemplo, como você sabe, sim como você sabe, a gente, as pessoas, infelizmente têm, temos, essa coisa, emoções, mas te deténs, infelizmente? o outro talvez perguntaria por que infelizmente? então dirás rápido, para não desviar-te demasiado do que estabeleceste, qualquer coisa como seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções. Meditarias: as pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra. Há os níveis-não-formulados, camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumprem, e sobretudo emoções. Que nem se mostra. Por tudo isso, infelizmente, repetirás, insistirás, completamente desesperado, e teu único apoio seria a mão estendida que, passo a passo, raciocinas com penosa lucidez, através de cada palavra estarás quem sabe afastando para sempre. Mas já não sou capaz de me calar, talvez dirás então, descontrolado, e um pouco mais dramático, porque meu silêncio já não é uma omissão, mas uma mentira. O outro te olhará com seus olhos vazios, não entendendo que teu ritmo acompanharia o desenrolar de uma paisagem interna, absolutamente não-verbalizável, desenhada traço a traço em cada minuto dos vários dias e tantas noites de todos aqueles meses anteriores, recuando até a data, maldita ou bendita,
ainda não ousaste definir, em que pela primeira vez o círculo magnético da existência de um, por acaso banal ou pura magia, interceptou o círculo do outro. No silêncio que se faria, pensas, precisarás fazer alguma coisa, como colocar um disco ou ensaiar um gesto, mas talvez não faças nada, porque ele continuará te olhando com seus olhos vazios, no fundo dos quais procuras, mergulhador submarino, o indício mínimo de um tesouro escondido para que possas voltar à tona com um sorriso nos lábios e as mãos repletas de pedras preciosas. Mas nesse silêncio que certamente se fará, talvez acendas mais um cigarro, e com a seca boca cerrada, sem nenhum sorriso, evitarias o mergulho para não correres o risco de encontrar uma fera adormecida. Teu coração baterá fortemente, sem que ninguém escute, e por um momento talvez imaginas que poderias soltar os membros e simplesmente tocá-lo, como se assim conseguisses produzir uma espécie qualquer de encantamento que de repente iluminaria esta sala com aquela luz que tentas, em vão, descobrir também nele, enquanto dentro de ti ela se faz quase tangível de tão clara. Nítida luz que ele não vê, esse outro sentado a teu lado na sala levemente escurecida, onde os sons externos mal penetram, como se estivessem os dois presos dentro de uma bolha de ar, de tempo, de espaço, e novamente encherás o cálice com um pouco mais de vinho para que o líquido descendo por tua garganta trêmula vá de encontro a essa claridade que tentas, precário, transformar em palavras luminosas para ofender a ele. Que nada diz, e nada dirás, e sem saber por quê pensas um extenso corredor escuro onde tateias, feito cego, as mãos estendidas para o vazio, pressentindo o nada, que tu mesmo prepararias agora, suicida meticuloso, através de silêncios mal tecidos e palavras inábeis, pobre coisa sedenta, te feres, exigindo o poço alheio para matar tua sede indivisível. Anjos e demônios esvoaçariam coloridos pela sala, mas o caçador de borboletas permanece parado, olhando para a frente, um cigarro aceso na mão direita, um cálice cheio de vinho na mão esquerda. A presença do outro latejaria a teu lado, quase sangrando, como se o tivesses apunhalado com tua emoção não dita. Tuas mãos apoiadas em bengalas mentirosas não conseguiriam desvencilhar o gesto para romper essa espessa e invisível camada que te separa dele. Por um momento desejarás então acender a luz, dar uma gargalhada ridícula, acabar de vez com tudo isso, fácil fingir que tudo estaria bem, que nunca houve emoções, que não desejas tocá-lo nem conhecê-lo, que o aceitas assim latejando amigo velo remoto, completamente independente de tua vontade, te todos esses teus informulados sentimentos. No momento seguinte, tão imediato que nascerá, gêmeo tardio, quase ao mesmo tempo que o anterior, desejerás depositar o cálice, apagar o cigarro e estender duas mãos limpas em direção a esse rosto que sequer te olha, absorvido na contemplação de sua própria paisagem interna. Mas indiferente à distância dele, quase violento, de repente queres violar com tua boca ardida de álcool e fumo essa outra boca a teu lado. Desejarás desvendar palmo a palmo esse corpo que tá tento tempo supões, até que as palma famintas de tuas mãos tenham percorrido todos os caminhos, até que tua língua tenha rompido todas as barreiras do medo e do nojo, tua boca voraz tenha bebido todos os líquidos, tuas narinas sugado todos os cheiros e, alquímico, os tenha transmutado num só, o teu e o dele, juntos - luz apagada, peças brancas de roupa cintilando, jogadas ao chão. Desejá-lo assim, a esse outro tão íntimo que às vezes julgas desnecessário dizer alguma coisa, porque enganado supões que tu e ele, vezenquando, sejam um só, te encherá o corpo de uma força nova, como se uma poderosa energia brotasse de algum centro longínquo, há muito adormecido, quem sabe dessa luz oculta, é então que sentes claramente que ele não é tu e que tu não serás ele, essa coisa, o outro, que mágico ou demoníaco, deliberado ou casual, te inflama assim, alucinando tua alma. Queres pedir a ele que, simplesmente sendo, te mantenha nesse atormentado estado brilhante para que possas iluminá-lo também com teu toque, com tua língua terna, com a vara de condão de teu desejo. Mas ele nada sabe, nem saberá se permaneceres assim, temeroso de que uma palavra ou gesto desastrados seriam capazes de rasgar em pedaços essa trama onde te enleias cada vez mais sem remédio, emaranhado em ti, em tua viva emoção, emaranhado no desconhecido de dentro dele, o outro - que no lado oposto do sofá cruza as mãos sobre os joelhos, quase inocente, esperando atento, educado, que de alguma forma termines o que começaste. Muito mais que com amor ou qualquer outra forma tortuosa de paixão, será surpreso que o olharás agora, porque ele nada sabe de tu próprio poder sobre ti, e neste exato momento poderias escolher entre torná-lo ciente de que dependes dele para que te ilumines ou escureças assim, intensamente, ou quem sabe orgulhoso negar-lhe o conhecimento desse estranho poder, para que não te estraçalhe impiedoso entre as unhas agora calmamente postas em sossego, cruzadas nas pontas dos dedos sobre os joelhos. Ah: fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro o cheiro preciso dele. Que não suspeitará de tua perdição, mergulhado como agora, a teu lado, na contemplação dessa paisagem interna onde não sabes sequer que lugar ocupas, e nem mesmo estás. Na frente do espelho, nessas manhãs maldormidas, acompanharás com a ponta dos dedos o nascimento de novos fios brancos nas tuas têmporas, o percurso áspero e cada vez mais fundo dos negros vales lavrados sob teus olhos profundamente desencantados. Sabes de tudo sobre esse possível amargo futuro. Sabes também que já não poderias voltar atrás, que estás inteiramente subjugado e as tuas palavras, sejam quais forem, não serão jamais sábias o suficiente para determinar que essa porta a ser aberta agora, logo após teres dito tudo, te conduza ao céu ou ao inferno. Mas sabes principalmente, com uma certa misericórdia doce por ti, por todos, que tudo passará um dia, quem sabe tão de repente quanto veio, ou lentamente, não importa. Só não saberás nunca que neste exato momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva. Como um trapezista que só repara na ausência da rede após o salto lançado, acendes o abajur do canto da sala depois de apagar a luz mais forte. E começas a falar
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( Caio Fernando Abreu)


Um Puta que o Pariu bem grande pra esse texto, com toda a doçura vibrante de cada palavra.