domingo, fevereiro 28, 2010

Amor,

Eu conheço mesmo um monte de cara que escreve pra caralho, caras por quem eu pago "mó pau". Seria capaz de tomar uma dúzia de cervejas com eles, só pelo prazer de entender de onde vem tanta inspiração. Aliás, por falar em inspiração, muito das coisas que eu escrevo, vem dos textos que eu leio por aí, desses caras.

Também já andei com uma porrada de caras que cantavam e tocavam bem mais que os caras que a gente ouve no som da carro e fica comentando e babando, comentando e babando... Inclusive, aprendi muito de bom gosto musical com eles.

Admiro os caras que falam sobre política com tanta propriedade e paixão como a gente fala do corinthians. Sou capaz de passar horas ouvindo-os ou lendo-os. O meu jeito prepotente de dizer verdades absolutas sobre política é culpa do que eles me ensinaram, mesmo sem saber que estavam me ensinando.


Eu poderia passar a noite inteira escrevendo sobre o que torna uma pessoa interessante pra mim. O que chama a minha atenção e me faz parar e olhar com mais carinho pra aquilo que passaria desapercebido em situações cotidianas.

Mas amar, amar mesmo, eu amo só você, amor. Porque por mais que eles sejam bons naquilo, especiais nisso, incríveis naquilo outro, nenhum deles fodeu todo o panorama que eu criei pra minha vida com um simples franzir de testa.

E como se não bastasse, você ainda é o único que não precisa escrever declarações românticas, cantar músicas lindas e defender os mesmos ideais políticos que eu, para que eu sinta na carne o quanto-tanto do seu amor.


Eu te amo, bobinho da estrela.

sábado, fevereiro 27, 2010

No momento, o meu maior arrependimento é não ter me chamado Cecília ou Luíza.

Meus pais não gostavam de bossa nova. Não tenho saída, vou me projetar na minha filha. Fato.



Luíza
Tom Jobim


Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Me dá tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar
Luiza



Cecília
Chico Buarque


Quantos artistas
Entoam baladas
Para suas amadas
Com grandes orquestras
Como os invejo
Como os admiro
Eu, que te vejo
E nem quase respiro

Quantos poetas
Românticos, prosas
Exaltam suas musas
Com todas as letras
Eu te murmuro
Eu te suspiro
Eu, que soletro
Teu nome no escuro


Me escutas, Cecília?
Mas eu te chamava em silêncio
Na tua presença
Palavras são brutas


Pode ser que entreabertos
Meus lábios de leve
Tremessem por ti
Mas nem as sutis melodias
Merecem, Cecília, teu nome
Espalhar por aí
Como tantos poetas
Tantos cantores
Tantas Cecílias
Com mil refletores
Eu, que não digo
Mas ardo de desejo
Te olho
Te guardo
Te sigo
Te vejo dormir..





Por causa delas, amor na minha vida, também é substantivo feminino. E o verbo conjugado nos tempos passado-presente-e-futuro.
Eu tô sendo muito feliz nesses últimos meses. Quer dizer, desde o comecinho de 2009, eu ando sendo bem feliz. Mesmo com tudo de errado que acontece vez em quando, mesmo com todos os planos que não dão certo, e como toda a força da palavra inesperada batendo na minha porta em dias alternados, eu ando rindo bastante, não da vida que eu levo, mas pra vida que eu levo. E isso faz uma diferença monstruosa.

Eu deveria agradecer, mesmo sem saber o que de certo eu mereço. Mas sempre achei obrigado uma palavrinha formal demais. A gente agradece vivendo de cabeça erguida, e de vez em quando um sorriso de canto pra mostrar que as coisas andam bem por aqui.

Com todo o peso das últimas escolhas, maturidade pra encarar planejamentos e uma mudança drástica de perspectiva aos 45 minutos do segundo tempo, eu ainda quero um pouco mais de todo esse exagero de friozinho barriga e quentinho de alma antes de aquetar de vez esse coração de menina inconsequente.

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Aí eu fico pensando em tudo o que eu tenho. Eu tenho coisa boa pra caralho.

Tenho uma família linda, um namorado de sonho, uns amigos incríveis, uma personalidade forte, uma dignidade transparente, um bom gosto raro, um bom senso intocável, uma dose de cultura marginal, um cachorrinho fofo, um coração bom e uma única verdade absoluta: Dinheiro nenhum no mundo compraria uma dose da minha pequena felicidade particular.


Eu nunca gostei de despedidas, des-pe-di-das mesmo, deve ser por isso que substitui o meu tchau por adeus, sei lá, uma maneira de me despedir, des-pe-dir mesmo, sem, necessariamente, ir embora de vez.

Hoje foi bem foda, bem triste. Dois amigos, dois adeus de verdade. Não da minha vida, mas do meu dia-a-dia, o que já dá uma puta diferença no meu cotidiano.

Se já era difícil suportar a semana, agora sem vocês, será tarefa de superação daquelas que cortam a carne.

Se eu pudesse fazer um pedido hoje, um único pedido hoje, pediria pra nunca ter que me despedir de verdade das pessoas que eu amo. Dói. E dor de verdade. De chorar e de fazer chorar.

As declarações mais bonitas são feitas nos últimos abraços. As mais bonitas e as mais tristes também.

E como diria Caio, não parem nunca de remar, porque ver vocês remando me faz ter vontade de continuar remando também. Ou qualquer coisa tão docemente parecida.

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Aproveitando o momento "meu trabalho e eu", queria deixar um carinho gigante pra algumas poucas pessoas que trabalham comigo e que conseguiram transpor o limite da convivência forçada e passaram a fazer parte da minha vida, qualquer que seja nosso caminho futuro.

A Priscila, pela cumplicidade e carinho de sempre.
A Fer, pela parceria e intimidade de todas as horas.
A Jans, pela doçura que me acalma quando eu mais preciso.
A Lu, pela tiração de sarro mútua misturada ao respeito que conquistamos com o tempo.
O Ted, pelas brigas eternas que duram uma semana e que alimentam minha adorável verve dramática.
A Érika, pelo cuidado, confiança e carinho que eu sinto só de olhar pra ela.
O Dan, por ser o Dan. Que sem nenhum motivo aparente, é um dos três homens que eu mais amo na vida.

Talvez eu nunca tenha dito, mas se eu pudesse escolher pessoas pra conviver comigo num "BBB", eu escolheria vocês.
Hoje eu falei, pela primeira vez do meu blog pra Jans. O povo do meu trabalho é bem bacana, algumas pessoas de lá eu considero amigos mesmo, de verdade, mas sei lá, deixo cada coisa no seu "cada-coisa" e meu blog tem muito de um lado meu que, talvez, seja agressivo demais pras pessoas que estão mais acostumadas com meu lado "escrava isaura".


Da Jans eu gosto. Aprendi a gostar depois de várias brigas, ciúmes e conclusões precipitadas.

E só falo do meu blog quando eu sei que rola uma intimidade além das circunstâncias cotidianas. Achei que já era a hora. Sei lá.

Provavelmente ela está lendo esse blog agora. Eu deixo um beijo então pra você, e o carinho de uma vida toda.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Eu sempre tive o dedo meio podre pras minhas escolhas. Fato. Engraçado é que na únicas vezes que eu não escolhi porra nenhuma porque fui escolhida antes, deu tudo tão certo que parece mesmo que o senhor destino vive de pegadinha do malandro comigo.

Vou pensar a respeito.
Salada de fruta com leite em pó.

Eu viveria disso. Disso e de amorzinho.
Sei lá, ando me achando uma farsa.

Tanta pose, tantas verdades absolutas, tantos princípios virtuosos, tanta segurança nas palavras e um medo monstruoso de decepcionar as pessoas que confiam cegamente em mim.

Com todas as minhas falhas e uma dignidade da qual eu ainda me orgulho, tenho vontade de gritar que nem sempre eu sou digna de tantas expectativas.

É isso.

domingo, fevereiro 21, 2010

Me disseram que eu ando bem mais calma que o habitual (Ok, começar um texto com "me disseram" é nojento. Remete àquela coisa de fofoca bem articulada, mas me disseram mesmo, o que eu posso fazer?).

Pois é.

Que eu ando mais doce, mais compreensiva, mais gentil, mais coisinha-fofa-de-apertar. E eu lá, querendo dizer que não, que não é nada disso, que eu não mudei, não amadureci, não tô mais flexível, estou apenas jogando mais paciência nas horas vagas.

Como diria Zagallo: Aí sim, fomos surpreendidos novamente.
Dias errados, eu diria em outra época.

Melhor amiga no pau da goiaba. Cinco meses de trabalho dobrado por vir. Melhor amigo de mudança pro Mato Grosso. Férias bem distantes. Falta de grana absoluta. Fim do verão chegando, e consequentemente, dores reumáticas voltando.

Tudo bem complicadinho e inesperado. Não fosse a doçura que eu encontro nos teus olhos quando você me abraça e me devolve a paz, que esse mundo insano tenta me roubar diariamente.

Ainda bem que me restou o teu sorriso, que me alumia alma e que me acalma quando é preciso. E como eu preciso. E como eu preciso.



Zé Geraldo roubou meu jargão dos últimos grandes acontecimentos da humanidade.

sábado, fevereiro 20, 2010








Tudo na minha vida começa sempre rock and roll, vai rolando bem bossa nova, blues nas horas de dor e acaba sempre tango argentino.

Nada muito diferente das batucadas da minha personalidade.

Ritmo. É isso que eu espero sempre.

Sintomático.
Andei pensando que durante a vida, tomo mundo tem apenas uma decisão crucial a tomar. Dela, depende todas as outras que irão destinar os nossos passos.

É bem simples, ou você pega o bonde da liberdade, ou o navio da dependência. Todos os caminhos que percorremos depois dessa escolha é derivado do que foi decidido naquela esquina escura do risco.

A nossa liberdade não termina onde começa a liberdade dos outros. A nossa liberdade termina onde começa a nossa dependência dos outros. E o inverso também é verdadeiro.

Deve ser por isso que eu sempre me senti moralmente ferida quando ouvia dizer que a principal escolha que fazemos na vida é sobre nossa profissão. Só há uma decisão capaz de mudar nosso rumo, viver num castelo construído pela gente ou viver num castelo construído pra gente.

E você, já decidiu o que vai ser quando crescer?
Sempre acreditei que toda vez que a gente entra numa igreja pela primeira vez, vê uma estrela cadente ou amarra no pulso uma fitinha de Nosso Senhor do Bonfim, pode fazer um pedido. Ou três. Sempre faço. Quando são três, em geral, esqueço dois. Um nunca esqueci. Um sempre pedi: amor.

Nunca tinha tido um amor. O quê? Aos 35 anos, agitando desse jeito? Explico: claro que tive dúzias e dúzias, outro dia até tentei contar e me perdi na altura do número cento e trinta e muito. Mas tudo rapidinho, assim, uma hora, um dia, uma semana, um mês, pouco mais. Nunca, digamos, UM ANO. Então quando alguém suspirava e dizia cara estou saindo de um caso de DEZ anos, meu olho arregalava de pura inveja. Histórias mais compridinhas, claro que rolaram. Maria Clara, por exemplo, mas a gente morava, eu em Sampa, ela no Rio, amor-ponte-aérea. Caríssimo. Isso, das moças. Dos moços, aquele bailarino americano em London, London, quatro/cinco meses. Talvez seis? Numa tarde de compras e roubos em Portobello Road me deu de presente um cacto (perfeito!) e me deixou plantado até hoje. Esse era amor-de-metrô, último trem entre Hammersmith e Euston. Onde andará? (“Onde andará?” é das perguntas mais tristes que conheço, sinônimo de se perdeu.)

Eis que de tanto pedir, insistir, acender vela, fazer todos os feitiços para Santo Antônio e Oxum e concentrar, rezar, mentalizar, eis que pintou. Ano passado me baixou um encosto de São Francisco de Assis, joguei (literalmente) pela janela quase tudo que tinha e, com duas malas, parti para o Rio. Não queria mais me prender a nada. Nem a Sampa, bem-amada. Numa ida a Porto Alegre, em agosto, deu-se. Explosão: à primeira vista. Tudo o que dissemos, depois de um longo suspiro de alívio, foi: eu amo você. Pasmem: verdade das verdadeiras. Ousadias do coração que saca, na hora, a intensidade do lance. E não disfarça. Bueno, tinha pintado.

Então tá. Romance comme il faut: dias numa casinha no meio de bosques em Gramado. Depois a volta ao Rio e, como dizia Ana Cristina Cesar (Aninha, Ana C., a bela, que falta você me faz menina fujona!), “amizade nova com o carteiro do Brasil”. Laudas e laudas de cartas de amor, uma por dia, duas por dia, dez por dia. Fotos, poemas, juras interurbanas. Voltei. Nós fomos os dois para o Rio. Dois meses lá: o amor resistia, mas nenhum estava a fim de pegar no pesado. Então fazer o quê? Dividir quarto pensão na Lapa, andar de ônibus, comer espiga de milho e misto quente? Nenhum acreditava em teu-amor-e-uma-cabana, também não era preciso teu-amor-e-um-rolls-royce (seria ótimo), mas pelo menos uma vitrolinha para fazer amor ao som do Bolero, de Ravel (amor tem desses lugares-comuns quase inconfessáveis). Voltamos. Verão em Torres. Camas de trinta horas. Passeios. Dunas, praia da Guarita. Filme. A sunga verde de lycra.

De repente uma luzinha vermelha começou, cigarro no escuro, a piscar dentro de mim. Foi no carnaval que passou. Suspeitas: porra, eu me afastei de tudo, de todos, joguei tudo pro alto e só quero esse amor, nada mais me interessa, se esse amor me faltar (pode?) eu só tenho isso, é o único laço que me prende à vida - e se faltar, Deus, se faltar o que faço? Noites paranóicas, medo Ritchie. E… se dançar? Aí dançou. Foi dançando. Não sei bem como. Uma tarde peguei nas suas mãos e, bem cruel (punhais: como a gente sabe apunhalar com engenho e arte, crava devagarinho a lâmina, depois revira, dentro da ferida), pedi assim: olha bem dentro dos meus olhos e me responde à seguinte pergunta: “Você não me ama mais?”.

Silêncio tão espesso que consegui ouvir o ruído do movimento de rotação da Terra. Feito nas novelas das seis, eu abri a boca quando ouvi a resposta. Um lento Não. Um claro Não. Um seguro Não. Um límpido Não. Um tranquilo Não. Um sem dúvida alguma Não. Um afirmativo Não. Repete, pedi. Repetiu. Pede-se não enviar flores, pensei. Fechei a porta. Fiquei só, chovia. Com requintes de autopiedade, limpei devagarinho com feltro um disco da Elis, deitei no chão e ouvi umas cem vezes “Se quiser falar com Deus”. Quando já ia abrir o gás, corri para o telefone e pedi ao Zé Márcio Penido em Sampa: socorro. Vem, ele disse. Santo amigo. Fui, na mesma hora. Me estonteei, vi todos os filmes, todas as peças, revi todos os amigos, ouvi todos os discos, namorei o que deu. Tinham sido NOVE MESES de fidelidade, no amor-amor, é sempre supernatural. Quando decidi estou-ótimo-fulgás-total-posso-voltar, voltei.

The reencontro: quando dei por mim estava dizendo as coisas mais duras e agressivas e cruéis e impiedosas e injustas e ferinas e baixas e grossas que uma pessoa pode dizer à outra.
Comecei a me perder pela cidade. Selecionei vinte gatos & gatas mais lindos do pedaço, dez semifinalistas, cinco finalistas, transei todos. Saí sem parar. De bar em bar, telefone tocando sem parar. Explodindo de vitalidade e saúde e sedução: capacidade de superação. Puxa, gente, como sou maravilhoso, como sou maduro e equilibrado, como sei dar a volta por cima, como não sou careta, como sou moderno e liberadésimo. Aí, desabou. Dez dias. De manhã bem cedo, chegando da vida, percebi uma pequena rachadura na parede externa do edifício. Avançava lentissimamente. Ao meio-dia rachou de alto a baixo. O edifício veio ao chão: me interna, pedi pra mãe, estou infeliz pra caralho. Peguei o pacote de cartas que tinha pedido de volta (fiz absolutamente todos os números, o problema é que a plateia estava vazia: ninguém aplaudiu minha melhor sequência de sapateado), coloquei aos pés de Ogum.

E agora, Caio F.? Agora, estou amanhecendo. Ah, me digo, então era assim. Essa coisa, o amor. Já conheço? Já conheço. Mas como é mesmo que se chama? Também não estou certo se estarei mesmo amanhecendo. Talvez, sim, anoitecendo, essas luzes penumbrosas são muito parecidas. Não sei muita coisa. Quase nada. Pedi? Levei. Nunca tinha sido tão intenso, nem tão bonito. Nunca tinha tido um jeito assim, tão forever. Não me diga que vai passar, vai passar, vai passar, vai passar. Não me diga que foi ótimo, o que você queria, a eternidade? Não me peça para não te encher o saco lamuriando. Posso não saber nada do coração das gentes, mas tenho a impressão, de que, de tudo, o pior é quando entra a segunda parte da letra de “Atrás da porta”, ali no quando “dei pra maldizer o nosso lar pra sujar teu nome, te humilhar”. Chico Buarque é ótimo pra essas coisas. Billie Holiday é ótima pra essas coisas. E Drummond quando ensina que “o amor, caro colega, esse não consola nunca de núncaras”. Aí você saca que toda música, toda letra, todo poema, todo filme, toda peça, todo papo, todo romance, tudo e todos o tempo todo, antes, agora e depois, falam disso. Que o que você sente é único & indivisível e é exatamente igual à dor coletiva, da Rocinha a Biarritz. O coro de anjos de Antunes Filho levanta no ar, em triunfo, os corpos mortos de Romeu e Julieta enquanto os Beatles pedem um little help from my friends, e a plateia ainda aplaude de pede bis (o Gonzaguinha também é ótimo pra essas coisas). Meus amigos, abandonados para que eu pudesse mergulhar, voltaram a mil. Tem seus prazeres o fim do amor. Se é patologia, invenção cristã-judaico-ocidental-capitalista, ou maya, ego, se é babaquice, piração, se mudou-através-dos-tempos, puro sexo, carência, medo da morte: não interessa. Tenho certeza que estive lá, naquele terreno. Ele existe.

Por isso falo dele: Joyce e Paula me pediram elucubrações, as minhas são estas. Estou contando a vocês que estou fazendo elucubrações sobre o amor porque provavelmente, de uma outra forma vocês aí que me leem, talvez com tédio, também estão pensando a mesma coisa. O bicho homem não faz outra coisa a não ser pensar no amor. Até as relações de produção, a luta de classes, a ecologia, o jogo pelo poder: tudo, questão de amor. Formas de amor. Amor é palavra que inventamos para dar nome ao Sol abstrato em torno do qual giram nossos pequeninos egos ofuscados, entontecidos, ritmados. A vida toda. Mas se me perguntarem o que quero dizer com isso, não tenho resposta.

O que quero dizer é justamente o que estou dizendo. Não estou com pena de mim. Tá tudo bem. Tenho tomado banho, cortado as unhas, escovado os dentes, bebido leite. Meu coração continua batendo - taquicárdico, como sempre. Dá licença, Bob Dylan: it’s all right man, I’m just bleeding. Tá limpo. Sem ironias. Sem engano. Amanhã, depois, acontece de novo, não fecho nada, não fechamos nada, continuamos vivos e atrás da felicidade, a próxima vez vai ser ainda quem sabe mais celestial que desta, mais infernal também, pode ser, deixa pintar. Se tiver aprendido lições (amor é pedagógico?), até aproveito e não faço tanta besteira. Mas acho que amor não é cursinho pré-vestibular. Ninguém encontra seu nome no listão dos aprovados. A gente só fica assim. Parado olhando a medida do Bonfim no pulso esquerdo, lado do coração e pensando, pois é, vejam só, não me valeu.




*Texto de Caio Fernando Abreu na revista Around, por volta de 1985. Retirado do livro “Para sempre teu, Caio F.”, de Paula Dip.



Dor com glamour.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Eu nunca precisei de muito. Desde pequena aprendi a arte da "racionalização dos gastos". Glamour eu deixo pra encontrar nas palavras. Esse, talvez, seja meu único e grandioso luxo.

Viagens caras, casas decoradas, roupas de marca, maquiagens importadas, baladas "credenciadas".. Nada, nada, nada. Meus momentos delicinhas são feitos por mim, por pessoas e histórias de pessoas. Posso ser muito elegante sentada no meu quarto, lendo um livro bacana com a capa descolada e bebendo itaipava. Estranho? Eu aconselharia a quaquer um experimentar antes dos argumentos padrões.

Meu carnaval foi um desses momentos. Nenhuma extravagância, nenhum passeio de lancha, nenhuma praia paradisíaca da europa, nenhuma ida ao sirena (?) e ainda assim, foi puro-glamour.

Se eu contar que eu passei o carnaval dormindo com o meu namorado num colchão no meio da sala, algumas pessoas, que nunca entenderam o real significado do luxo e glamour da vida, sentirão pena. Eu sinto muito por elas. Infelizmente, todas as "possibilidades" delas nunca serão suficientes pra comprar meio terço da minha tranquila felicidade.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Eu ando com uma vontade danada de me desculpar com pessoas. Com algumas eu errei pra caralho. Com outras, ajudei a transformar pequenos atritos em erros. O que dá no mesmo, no fim das contas. Eu errei muitas vezes, a vida toda. Meus passos sempre foram meio tortos. Imaturidade talvez. A verdade é que eu nunca tentei consertar porra nenhuma. Orgulho idiota de não voltar atrás.

Hoje conversando com alguns amigos, me dei conta de que os meus erros mais graves foram, exatamente, com pessoas por quem eu tinha o carinho mais sincero. Aquela merda toda de intimidade e tralalá.

Não sei dizer se eu já estou preparada pra começar a rever algumas histórias mal resolvidas, mas sei que nem todo mundo merece as minhas desculpas. Aliás, essa vontade só nasceu depois que eu consegui, finalmente, perceber quem é realmente importante na minha vida. E dói perdê-los um pouco mais a cada dia sem fazer nada pra aliviar a ferida.

Importantes de verdade são bem poucos, mas puta merda, como me fazem falta.





Odiamos caju e temos a mesma "vibe" pra piadas alheias. Somos campeãs de truco e representamos a classe do autoritarismo bagunçado. Rimos das mesmas histórias e temos, quase sempre, a mesma percepção do cotidiano a nossa volta.

O respeito e admiração que nasceu diante tanta sintonia acabou se transformando em uma amizade daquelas que é qualquer coisa do tipo "pro que der e vier".

No começo, confesso, eu não a escolhi como parceira. Aconteceu.
Hoje, depois de tantos abraços, eu aprovo e agradeço ter sido com ela, tamanha identificação.

Aprendemos com o tempo que lealdade não se conquista com tapinhas nas costas. E descobrimos juntas que rir dos nossos defeitos nos torna ainda mais companheiras.

Um beijo e todo o meu carinho de sempre, Fer.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Bom dia, Brasil.


Acordei com uma sensação feliz. Sei lá, meio que uma coisa de alma preenchida. Do nada, sem motivos surpreendentes, sem planos novos, sem lembranças fortes. Feliz assim, de graça.

Talvez seja o jeito mais sincero de aguentar uma quarta-feira.

domingo, fevereiro 07, 2010

Ontem eu tava no clima Racionais. E toda vez que eu ouço Racionais, é batata, eu me apaixono pelo Mano Brown.

Músicas de rap nunca fizeram parte dos meus sons favoritos, confesso até, que por muito tempo nutri um certo preconceito pelo ritmo. Mas não tem como não reconhecer a genialidade do cara. Um fodido. Ele fala das coisas que o mundo-cor-de-rosa tenta esconder, e o melhor, o mundo-cor-de-rosa ouve. Ouve e aplaude. E transforma suas expressões agressivas em jargões. E o cara tem a "pachorra" de fazer com que suas letras violentas que arregaçam os playboyzinhos e suas vidas fúteis, toquem em festas e boates dessa mesma gente que caga dinheiro. ´

Não é qualquer um que tem essa moral. Não é mesmo.


E como se não bastasse, toda vez que eu ouço "Sobrevivendo no Inferno" sinto o cheiro de gente que eu admiro. É foda.





Hoje comemoramos a duplicação do número da sorte em nossas vidas. Pra quem tem certeza que um dia ele se multiplicará por 10, é um bonito começo.

Por todas as coisas que já precisaram ficar expostas nas vitrines, e que agora viraram pele, carne e alma. Hoje eu te amo só pra você, meu amor.


Depoimentos dele,



Fernanda: "Hoje eu acredito nas minhas unhas compridas nas tuas costas, nas músicas que você coloca pra eu ouvir, nas nossas conversas sobre política e religião, na minha boca com gosto da sua língua, no seu uiforme do corinthias combinando com meu vestidinho quadriculado, nessa vida que eu empurro com essa barriga dolorida de quem já se estragou muito com café-cigarros-álcool e que tá aprendendo a ser mais leve com você.

Já fui idiotinha demais quando era mais jovem, me deixa ser feliz desse jeito, agora que, finalmente, eu tô vivendo o que eu acredito.
É isso, eu acredito. Acredito como se não houvesse amor em nenhuma outra porra de lugar além dos teus braços."


Um pedacinho do meu ontem a noite.






Fernanda
: "E no meio da noite eu me pego pensando nesses últimos meses. Lembro de você fazendo pela primeira vez o meu café da manhã, de você disfarçando um brilho diferente nos olhos, porque o meu cachorro buscou a bolinha e entregou na tua mão, me deixando com cara de "mãe-biológica-renegada". Lembro de você querendo fugir do museu de letras porque "eruditismo" demais acaba te sufocando. Lembro de você olhando a bunda da minha amiga e logo depois me dando um abraço forte e dizendo “os textos que você escreve são tão lindos, meu amor”. E lembro da primeira vez que eu te vi e te achei meio fresco, comportado, estranho. Até que na segunda vez você me apertou com força e por razão nenhuma eu tive certeza que meu filho nasceria um pouco fresco, comportado e estranho.

E então, no meio da noite, enquanto eu penso nisso (...) me vem a certeza de tudo o que ainda seremos juntos."


Porque você é a única pessoa do mundo que, depois de prontos e apresentados, me faz mudar os finais dos textos. Eu te amo, também por isso.





Fernanda: " (...) Suspiro tanto quando penso em você... Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir, vez em quando, até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito, repito em voz baixa: Te amo tanto, dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar.

Clack! Como se fosse verdade, um beijo."




Do Caio. Pra ninar você.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Sei lá porquê, acabo de me lembrar que eu adoro ouvir "Toca Raul" quando a intenção é essa música,


Cachorro Urubu
Raul Seixas


Baby, essa estrada é comprida
Ela não tem saída
É hora de acordar
Pra ver o galo cantar
Pro mundo inteiro escutar
Baby, a história é a mesma
Aprendi na quaresma
Depois do carnaval
A carne é algo mortal
Com multa de avançar sinal

Todo jornal que eu leio
Me diz que a gente já era
Que já não é mais primavera
Oh baby,
A gente ainda nem começou

Baby, o que houve na trança
Vai mudar nossa dança
Sempre a mesma batalha
Por um cigarro de palha
Navio de cruzar deserto

Todo jornal que eu leio
Me diz que a gente já era
Que já não é mais primavera
Oh, baby,
A gente ainda nem começou

Baby, isso só vai dar certo
Se você ficar perto
Eu sou índio Sioux
Eu sou cachorro urubu
Em guerra com Zéu!






Quarenta graus em São Paulo, com sensação de cinquenta. Juro.

Um dia eu pretendo me mudar pra Groelândia, só pelo prazer de ter alguma lembrança boa vinculada ao calor dos nove infernos que fez essa semana em São Paulo.

Nunca foi tão justo se apropriar da expressão popular "O inferno é aqui!".


P.S Tudo isso pra dizer que eu aceito piscina de plástico como presente de carnaval. Grata.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Eu tive um puta dia cheio no trabalho. Estresse, dor de cabeça, intolerância e o diabo a quatro. Maior vontade do mundo de jogar tudo pro alto e encontrar um ombro que ouvisse todas as reclamações de que a minha vida não presta e que o inferno é aqui.

Voltei pra casa com a idéia fixa de que os maiores problemas do mundo são os meus. Abri o portão, joguei minha bolsa num canto e sentei no sofá. Minha prima estava lá, assistindo tv. Pensei que seria ela, o ombro que eu tanto procurava. Quando eu ia começar a sessão "meu mundo caiu", ela me disse sem enrolação que um amigo nosso havia morrido. Assim, do nada, de uma hora pra outra. Um cara novo, mega inteligente, culto seria a melhor palavra. Um cara que entendia tudo de som e que me ensinou muito de Beatles e Jorge Ben. Um cara, que até uns tempos atrás, dividia a mesa, as cervejas e as músicas comigo. Ele tinha um loja, dessas que você só encontra se tiver muito interesse em música. Que não é popular no "pedaço", mas é a de maior credibilidade no meio. Ele tinha projetos relacionados a cultura. Ele discotecava na noite. Ele tinha uma família tão adoravelmente sacana quanto ele. Todo mundo queria fazer parte da "tchurma" do cara. Ele tinha uma baita moral com a galera. Era meio que um "Bortolotto" da região.

Eu nem sei se ele tinha tantos problemas quanto eu acho que tenho. E nem teve tempo de choramingar a merda de mundo que fodeu a vida dele de uma hora pra outra, como eu pretendia fazer essa noite.

Ele morreu de repente. Sem preparar dramas nem discursos.

E sem pensar em mais nada, ao mesmo tempo em que eu agradeci por poder resmungar meus dramas por aí, me calei. Talvez por ele. Talvez por mim. Talvez pelo tempo. Talvez pela vida. Talvez pela morte. Talvez por vergonha.

E descobri que poucas vezes na vida eu me calo, uma delas é quando o grito do inesperado faz eco sobre a minha dor.

Nssa noite nenhum suspiro.