sábado, julho 26, 2008

Do preto e branco que ganhou cor

Carol, das nossas conversas secretas na sala do Marcelo, do dia-a-dia difícil pra caralho e a gente arranjando tempo pra rir, da lasanha que eu fiz e tive que tirar foto pra provar, dos vinhos no Bistrô, dos convites que eu só aceitava depois de saber se você iria estar lá, do óculos de sol que você acertou no escuro que era o que eu queria, dos preparativos do seu casamento, do seu sorriso pra mim na hora de entrar na igreja no meio de 300 convidados. Da tua preocupação em me contar com todo o cuidado do mundo sobre o Ti, da sua gata gorda dormindo entre as minhas pernas. E daquela primeira impressão ruim no Arco da velha ficou a irmã de olhos azuis que eu ganhei pra vida toda.


Sil, da cumplicidade, poderia ser só isso e já seria tudo, nunca eu fui tão leal e fiel a alguém em toda a minha vida. Da sua gratidão em forma de carinho e preocupação diária, das mentiras que eu contava pra livrar a sua cara, do fim de ano na praia e seu cuidado comigo, das discussões que me faziam trabalhar chorando, dos seus pedidos de desculpas que me faziam chorar ainda mais. De quando você ligava e dizia: "- É eu", e de como você dizia pra todo mundo que eu era o seu diamante. E do Seu Jorge me procurando desesperado na festa do seu casamento na hora da foto pro álbum dos noivos, "Porque o Silvio não vai tirar a foto se você não estiver lá". Você nem sabe, mas até hoje as pessoas associam a minha imagem a sua, e eu quero muito que seja assim pra sempre.


Vanessa, foi assim, eu nasci e na saída da maternidade você já me deu um tapa pra em seguida querer me pegar no colo. E tem sido assim, nesses vinte e tantos anos de amizade. Dos planos, sonhos, decepções, esbórnias, brigas e juras de "nunca mais quero te ver" que nunca se cumprem. Não é fácil nossa relação, intimidade demais é perigoso, e isso é o que mais temos. Você conhece todos os meus podres, você esteve presente nas minhas maiores loucuras, você sempre esteve presente e com força nas minhas histórias. Do sertanejo ao rock. Do Baratotal ao Ballouart. Da maternidade eu guardo duas lembranças, a do primeiro tapa e a de ter largado o trabalho no meio do expediente sem avisar a ninguém e ter saído desesperada só pra estar ao seu lado e ver a sua filha nascer. Duas vidas.


Jacy, se tem alguém nessa vida que conhece as minhas dissimulações, as minhas lágrimas presas, o meu tom de voz, as minhas preocupações, os meus medos, as minhas vergonhas, as minhas expressões, as minhas raivas e o meu guarda-roupa é ela. E isso não é qualquer coisa. Da minha adolescência problemática e dos erros que eu cometi nessa fase, você foi o meu acerto. E foi o que ficou de mais forte em mim.


Trinca, eu lembro das tuas birras com meus namorados, do dia em que eu fiz, pela primeira vez, uma torta de limão só porque era seu doce predileto, de você me buscando no trabalho, de você me levando no colo pro hospital, de você enrolando os médicos e aparecendo escondido na janela do quarto só pra me dizer por mimica que ia ficar tudo bem, de você socorrendo meu pai quando ele adoeceu, de você me dando pizza de aviãozinho na época em que eu só comia melancia e alface, de você que nunca quis ver minha tatuagem porque achava que eu não combinava com essas coisas de maluco. É, eu não lembro de mais ninguém que não me achasse maluca naquela época.

Você sempre me viu como sua princesinha, a boneca intocável, a sua menina, a sua.

Eu lembro principalmente do dia em que estávamos em uma puta galera indo pro Amarelinho, e eram poucos carros pra muitas pessoas, a garota por quem você era louco estava lá com a gente. Nos encontramos todos no Posto BR pra ver se dava pra levar todo mundo. Até dava, mas no maior aperto da face da terra, uns 8 em cada carro, e com a maior chance do mundo de fazer média com a tal garota, você olhou pra ela, olhou pra mim e com seu jeito de líder-da-turma, berrou:" - Ó, já vou logo avisando! A Fê vem na frente comigo, os outros 6 que se virem no banco de trás."

A garota se tornou sua mulher, e eu nunca tive a chance de te dizer que eu nunca fui tão feliz quanto na época em que éramos, primeiro eu e você. E depois o resto do mundo.

Dizem que amizades assim só acontecem uma vez na vida. Eu digo que são amores assim.
Eu tive sorte.


Martina, de você ouvindo atentamente as minhas histórias lendárias da noite mogiana, da gente conversando sobre um mundo de sons que você tava descobrindo naquela época, das nossas confidências, dos meus desabafos sobre pessoas que você nunca tinha visto na vida, de suas visitas no meio do trabalho sempre cheias de risadas e cor, das piadas sem graça sobre magaiver, dos cigarros no fim do corredor, da primeira virada de noite juntas, do seu vestido de bolinha mais lindo do sistema solar que deixou meus amigos babando, da gente sentada na calçada esperando o Morumbi abrir, dos cafés puros ou com leite, do seu carinho, de todas as vezes que você fez com que eu me sentisse especial, da saudade quando você foi desbravar a américa do norte, e do isqueiro que você não me trouxe, e do cheiro de pera que todo mundo vai sentir quando chegar perto de mim porque você decidiu que eu deveria ter cheiro de pera. E de tudo que a gente ainda vai viver juntas ao som de Stray Cats. Eu tenho um puta orgulho da mulher que você se tornou e sou putamente feliz por essa mulher ter se tornado uma das minhas melhores amigas.


Gabi, da gente só ter precisado de alguns minutos na mesa do Divina Comédia pra se "reconhecer" de imediato, dos nossos papos sobre tudo-tudo mesmo, que sempre me ensinam algo, da tua inteligência fora do normal, do seu jeito francesa de ser, dos nossos gostos em comum, de eu ter saído de casa mancando com os pés fodidos só pra dar um abraço na aniversariante e só porque a aniversariante era você, do quanto eu me emociono com seu carinho e seu cuidado comigo, do quanto eu gosto de te ver cada dia mais segura, mais madura, mais confiante, mais mulher de deixar qualquer um de queixo caído, do teu charme em cada gesto, cada palavra, cada olhar que me faz olhar pra você com cara de boba e pensar : "Puta Que O Pariu!". E de quando eu te sei quando ninguém mais te sabe, mesmo sem precisar dizer uma palavra. É incrível, mas muitas vezes eu olho pra você e me vejo. Ecos de sintonia, dizem. Minha Branquinha.

Do azul que ganhou cor

Paty, das nossas meninices, da minha saia voando no meio dos carros, do seu secador portátil no meio do bar, do brigadeiro de colher que não deu tempo de fazer, da minha pergunta ao sair do banho "- Amor, quer me ver pelada?", do seu " Fe, eu te amo" desenhado na palma da mão e de todas as histórias que ainda vamos viver só pra eu contar pros meus netos sobre a Lenda da Rainha Do Bailinho, a mulher que fazia os outros perderem um pouco de mim porque sempre me botava torta pra um lado. O seu.

Paulo, do Premiata, das músicas descobertas, do ex "mor" manhoso de todo dia, da escada rolante de Congonhas, da voadora na Paulista, de dormir no seu ombro no sofá da Outs, da sua alergia ao cigarro, da vontade de mudar de cidade, do all star amarelo que eu ainda vou te dar, das conversas sobre trabalho, das nossas inconsequências, e do não-querer-mais-que-bem-quere que é tão nosso. Vem do Maranhão, o carinho e cuidado mais puros que eu carrego hoje comigo


Talita, dos pés doloridos, das lágrimas de riso, dos arcos de chifres brilhando nos shows de rock, das mãos sujas e enlaçadas, dos passeios de metrô por pura preguiça de andar, do não-reconhecer as pessoas, das bundas quase-arrancadas, dos cigarros divididos, das coxinhas devoradas, do ser gostoso não fazer nada juntas e da certeza de perdões por todos os erros que ainda iremos cometer. Minha maior certeza de carinho pra toda a vida.


Renato, do cérebro comestível ao inferno intragável. Três trago, dois goles e uma paisagem da janela lateral. Sabor Vertigem. Vômito verbal. Tempo. Maturidade. Reencontro. Abraços revelados. Um foda-se pros outros e um martini com cereja pra gente, por favor. E com gosto de que somos bem melhores juntos.


Rodrigo, das ofensas em público, do beijo "NO ROSTO", do sarro das minhas havaianas, do provolone fake, das conversas sobre traumas intestinais, das histórias mais absurdas que você já preveu sobre mim e acertou. Dos conselhos que eu não ouvi e da certeza que você sempre teve sobre o meu carater quando todo mundo duvidava das minhas atitudes. Porque você nunca precisou das provas, sempre teve as minhas verdades. Da minha biografia que você ainda vai escrever um dia e do meu carinho que você já tem nas mãos


Rafa, de receber "I wanna hold your hand" em mensagens de celular enquanto eu estava aos beijos com um cara de quem eu nem lembro o nome, de ligações de 4 horas por dia, de desculpas esfarrapadas, de loucuras confidenciadas, de Divina Comédia, dos meus amigos olhando torto pra aquele playboy que se atrevera a andar de mãos dadas comigo no meio do bar que era a minha segunda casa e ele nunca tinha estado, do nosso não-namoro, e do tempo que passa e sempre parece que foi ontem a última vez que você me deixou na esquina de casa e se perdeu no meio do caminho.


Geison, da sua voz rouca com sotaque gaúcho nas noites frias e distantes, do Nei Lisboa que deixava chico buarque na gaveta, da garota azul que brincava de ser colorida, do cara escorregadio dono absoluto do terreno mais minado que eu já pisei, do seu coração gigante, do meu arrependimento pelas idiotices que eu já te disse, da maior vontade de abraçar alguém que São Paulo já ouvir falar e do Bendito Breno que me fez colocá-lo aqui, entre as pessoas mais especiais que eu conheci, mesmo sem conhecer. A exceção. Porque sim, existe sim, sentir orgulho e confiança por alguém sem nunca ter olhado nos olhos.


Camile, de você ter entrado chutando a porta no meio do meu momento "Eu vou fazer uma revolução nessa porra!" lá na nossa antiga casinha azul. De eu ter me impressionado com suas sacadas sempre certeiras e cheias de ironias e verdades. De quando eu descobri que você também chorava pelas dores do mundo, e de quando você e eu patenteamos nosso "Beatles Yeah" como símbolo de "ééé, isso é bom". Dos nossos segredos-maiores-do-universo. E principalmente, de quando eu te procurei pra te contar os passos que eu iria dar, porque imaginava que aquilo, de alguma forma, pudesse te machucar. Foi nesse dia que eu percebi que se eu estava fazendo aquilo era porque você não era só mais uma mulher que eu achava bacaninha. Era mais, era importante na minha vida. Era importante ser limpa, clara e verdadeira contigo. E foi isso que você me deu em troca. E foi desse jeito que eu aprendi a gostar de você sem medo.

sexta-feira, julho 25, 2008

Aqueminteressarpossa


Eu.

Indecisa, dramática e exagerada. Estúpida, muito estressada e preguiçosa. Escrota, egocêntrica, cabeça dura e orgulhosa. Injusta. Radical. Desorganizada. Infiel e desbocada. Faladora de palavrões, não admitidora de gritos comigo, aumentadora de histórias, contrariadora de boas expectativas e destruidora de noites perfeitas. Chantagista emocional. Hipocondríaca. Fumante desesperada. E alcoolatra de café. Sem-vergonha. Cuzona. Esquisita.

Extremamente anti-social.

Cabelos a la peruca de cleópatra. Figurinos do guarda-roupa da sua avó. Óculos escuros gigantes em dias de chuva. Celulite e estria e espinha e pé chato e mão direita inválida. Ódio recente pelas orelhas. Do nariz eu ainda gosto, embora seja pequeno demais pro resto do corpo. Despeitada e desbundada.

Nada bipolar. Meu mau-humor é absurdamente estável e vai bem, obrigada.




Pronto. Agora, vocês que adoram brincar de falar da insegurança alheia, sintam-se a vontade pra deturpar a minha imagem.


Só mais uma coisa:

Malandro é malandro
Mané é mané





Desculpa aí, Patetas-Cinderelas-e-Super-Homens, mas eu e meus defeitos somos de verdade.

E temos sorte.

quinta-feira, julho 24, 2008

Onde Andará Dulce Veiga?

Eu poderia ficar ali parado, olhando a mancha de café espalhar-se lenta sobre o poema, lembrando tudo que não queria lembrar eassim, parado pra sempre no meio do apartamento, enquanto vidas alheias acontecem além das janelas, fora e longe de mim, sentisse apenas mágoa, saudade e esse tipo de espanto amargo em que ninguém dá jeito, eu poderia. Mas repeti que era tarde, que eu tinha um dia de cão, que não tinha tempo e me desculpe, você sabe ... esta cidade, esta vida, esta manhã.

(Do filhadaputa do Caio)

Música pra ler III

Querido Diário (Tópicos para uma semana utópica)
Cazuza

Segunda-feira:
Criar a partir do feio
Enfeitar o feio
Até o feio seduzir o belo

Terça-feira:
Evitar mentiras meigas
Enfrentar taras obscuras
Amar de pau duro

Quarta-feira:
Magia acima de tudo
Drogas barbitúricos
I Ching
Seitas macabras
O irracional como aceitação do universo

Quinta-feira:
Olhar o mundo
Com a coragem do cego
Ler da tua boca as palavras
Com a atenção do surdo
Falar com os olhos e as mãos
Como fazem os mudos

Sexta-feira:
Assunto de família:
Melhor fazer as malas
E procurar uma nova
(Só as mães são felizes)

Sábado:
Não adianta desperdiçar sofrimento
Por quem não merece
É como escrever poemas no papel higiênico
E limpar o cu
Com os sentimentos mais nobres

Domingo:
Não pisar em falso
Nem nos formigueiros de domingo
Amar ensina a não ser só
Só fogos de São João no céu sem lua
Mas reparar e não pisar em falso
Nem nas moitas do metrô nos muros
E esquinas sacanas comendo a rua
Porque amar ensina a ser só
Lamente longe por favor
Chore sem fazer barulho.

quarta-feira, julho 23, 2008

Dando Tchau

Dia desses eu fui docemente obrigada a fazer uma avaliação física lá na minha academia. Digo docemente porque meu instrutor veio com uns elogios baratos sobre minha frequência nas aulas, o meu bom desepenho nos treinos, os resultados que estavam começando a aparecer e blá blá blá. E o obrigada, bem, o obrigada fica por conta da ameaça que eu sofri no fim dos elogios, dizendo que sem essa merda de avaliação física eu não poderia continuar treinando lá. (Homens, bah, sempre alisando pra bater)

Enfim, lá fui eu pro abate (sabe os bois caminhando naquele corredorzinho pra serem sacrificados? Pois é.) . Tive a brilhante idéia de colocar um milhão de roupas de frio pra ficar mais gorda, só pra causar aquele impacto de ilusão de ótica na hora que o fisioterapeuta virasse pra mim e falasse: Tire a roupa.

E foi dito e feito. De cara ele já comentou: "- Nossa, mas você parecia ser mais gordinha" (Sim, nas horas vagas eu sou um gênio). E aí começou aquela porra toda de medidas pra cá, e aparelhinho do capeta pra lá, e meus olhos fechados daqui... Não posso negar que arregalei os olhos de felicidade quando ele disse que minha taxa de gordura estava bem mais baixa do que ele esperava (Nada deixa uma mulher mais feliz do que ouvir a palavra gordura seguida de baixa, acreditem). E disse mais, disse que meu lado direito tem exatamente as mesmas medidas do meu lado esquerdo. Pasmem! Pela primeira vez na vida alguém diz que eu não sou torta, e com comprovação científica.

Já estava me sentindo a rainha da bala chita, e vestindo a minha roupa pronta pra tirá-la mais tarde na playboy quando ele chegou nas considerações finais sobre o meu tríceps...

E é óbvio que eu vou terminar essa conversa por aqui, sem contar a parte em que eu resolvi abolir as alcinhas da minha vida, porque tenho uma reputação de quase-gostosa pra zelar, embora as pessoas insistam em dizer que eu sou apenas A Legalzinha.

Mas por via das dúvidas, já vou logo avisando, quando eu responder o seu tchauzinho todo cheio de entusiasmo do outro lado da rua com um mísero aceno de cabeça, acredite, aquele velho clichê nunca mais terá outra chance de ser tão verdadeiro:

- Não, a culpa não é sua, meu bem...Sou eu, Sou eu...

Só ela

Paty disse...

Eu tava lendo aqui e chorei. Não foi de alegria, não foi de tristeza. Foi de ausência. Qualquer coisa que sente saudade e ainda falta. Qualquer coisa que merece, precisa e pede por mais uma 'colisão'. Pra perder e encontrar. Pra eu me perder e você me encontrar. E aí voltamos e sentamos no banco de sempre, você fuma seu cigarro e fala um palavrão, comentamos sobre o dia em que berrei por me assustar com um cachorro e você riu. E depois você se assustou com o vento que levantou sua saia, no melhor estilo Marlyn Monroe Paulista, e eu? Eu ri. Rimos e selamos com um selinho o reencontro. Mando lembranças às suas netas e você promete me contar o segredo da receita de pão de ló. E seguimos cada uma por uma rua, torcendo em silêncio para de novo encontrarmos em uma esquina qualquer. Pra de novo eu ser seu lugar e você, o meu.

22 de Julho de 2008 23:56
Paty disse...
E é claro que eu tinha de esquecer do i de Marylin. Afinal, sabemos que a perfeição só faz estragos...E eu não esqueci de dizer que te amo. Não precisa, cada vírgula e palavra mal escrita aqui, foi amor. Aquele mesmo que nunca soubemos explicar...

23 de Julho de 2008 00:01
Paty disse...
PUTA QUE PARIU!

Agora eu fodi com toda a atmosfera romantiCUzinha que tentei criar.
marilyn monroe
marilyn monroe
marilyn monroe
marilyn monroe
marilyn monroemarilyn monroe
marilyn monroe

Sete vezes que é pra não errar duas vezes seguidas.

23 de Julho de 2008 00:04
Paty disse...
Reparou como eu disse com convicção que esqueci do i de MARYLIN?


Toupeiras são simpáticas, né amor?







Eu penso na nossa última briga, eu lembro do tanto de coisas que a gente já viveu, eu reparo nos horários dos comentários, eu percebo que em menos de 10 minutos ela consegue me jogar na cara toda a beleza do não-entender que é o nosso amor. E eu fico com aquela sensação idiota de sorriso de canto de bochecha que pensa: "Que bom que a gente é assim..."

Só ela.

terça-feira, julho 22, 2008

Do que ficou

- Eu nunca fui um cara de pensar no futuro, e você me conhece, sabe que isso não é nenhum clichezinho da minha parte. Nunca pensei em ter mulher, filhos, cachorros e almoços fartos de domingo. Já é difícil pra caralho ter que suportar a ressaca aos domingos, imagina suportar pessoas? Mas quando eu tava lá, no caralho do fim do mundo, naquele frio absurdo e sem ninguém pra conversar, eu pensava naquela casinha de campo com chaminé e tijolos antigos, que a gente viu a caminho do sítio quando estavamos tendo a nossa briga mais feia. Lembro que de repente você emudeceu e eu todo preocupado, achando que você estava tendo um troço, falta de ar, paralisia e você nada, nem pisacava. Aí você apontou pra casinha, e sem nem lembrar que segundos atrás estavamos quase nos matando, disse "-Eu quero criar nossos filhos numa casa assim"
Porra, na hora eu quase caí pra trás, pensei que você tivesse enlouquecido de vez, mas aproveitei o momento pra te abraçar e deixar aquela briga idiota de lado.

Hoje depois de tanto tempo longe, e com tantas mudanças de planos, eu continuo sendo aquele cara egoísta, que não pensa no futuro, mas aquela casa é até hoje uma das lembranças mais fortes que eu tenho do nosso relacionamento.
Não, ainda nem passa pela minha cabeça a idéia de formar uma família. Mas quando eu lembro daquela casa e do seu comentário, eu quase amoleço e me bate a certeza, se um dia eu tiver filhos, eles terão uma mãe que muitos anos antes já havia escolhido o lugar mais lindo do mundo pra criá-los.

segunda-feira, julho 21, 2008

Se o tempo voltasse...

Se o tempo voltasse
Iria aprontar as mesmas estripulias da infância,
Trocar a boneca pelo pique-esconde
Gritar aos céus deseperada o meu primeiro tombo de bicicleta
Chorar no meu primeiro dia de aula
Pegar um cachorrinho de rua pra cuidar

Se o tempo voltasse
Iria cometer os mesmos erros juvenis,
Iria achar nojento aquela saliva desconhecida no meu primeiro beijo
Tomar meu primeiro porre com bombeirinho
Chegar de madrugada em casa e ouvir minha mãe gritar comigo
Gastar todo o meu primeiro salário em vinis dos Beatles

Se o tempo voltasse
Iria amadurecer pelas mesmas descobertas,
Iria descobrir que tatuagens doem, mas combinam comigo
Que fora de quem se gosta dói mais, mas palavrões aliviam
Que dificilmente se goza na primeira transa, mas não impede de continuarmos "tentando"
E que eu fiz um ótimo negócio gastando meu primeiro sálario com os Beatles

Se o tempo voltasse
Iria percorrer o mundo pela mesma estrada,
Só para aos dezesseis te encontrar
E daí em diante, meu bem ...
Você já sabe de tudo.




Obrigada pelos lindos passos que demos juntos.


(Inspirado em um poema de Ricardo Nunes que eu li aos 16 anos)

Carta a Plínio Marcos.

São Paulo, 19 de novembro de 1999.


Meu pai morreu. Todo pai morre. Agora estou aqui pensando: o que foi que meu pai me deixou? Apartamento? Não. Carro? Nem uma bicicleta. Dinheiro? Ele não conseguia pagar nem as próprias contas. Mas pagava a dos filhos. Roupas? Só um chinelo velho, mas meu pé é maior. Sem testamento, sem herança, sem nada? As peças. As peças de teatro? Meu pai era escritor de teatro. Tem gente que escreve peça pra ganhar dinheiro. Não, meu pai não. Não ganhou muito dinheiro com teatro. O que ganhou, gastou. Meu pai não era um bom administrador. Era um "maldito", diziam, um "marginal", mas não era bandido. Por que ele era maldito, afinal? Por que não escreveu peça pra ganhar dinheiro? "Ninguém tem direito de pedir a um artista que não seja subversivo."

Meu pai fez novela, fez Beto Rockfeller. Mas Beto Rockfeller não conta, Beto Rockfeller era A novela, tinha a cara dele, era revolucionária. Ele ganhou um dinheiro, me comprou um tênis, uma guitarra, um... Mas A novela era na Tupi. A Tupi faliu. Meu pai foi fazer novela na Rede Globo. Meu pai escreveu no jornal "A Última Hora" que a Globo botou a Sônia Braga dois meses tomando sol pra ficar escura, em vez de chamar uma mulata pra fazer "Gabriela". A Globo não gostou. Os "poderosos" da Rede Globo não gostaram. Fizeram ameaças, juraram de morte. Em fim, a Globo não dava mais. Mas enquanto os "poderosos" iam dizendo: Não! Não! Não! Ele ia ganhando o respeito dos humildes de coração, um "povo que berra da geral sem nunca influir no resultado", um povo fudido, os marginais, as putas, um povo que não aparecia na T.V. O povo dele era entre outros, os sambistas, não esses de agora, de terno Armani, cercados de loiras recauchutadas, mas, os sambistas das escolas de samba de São Paulo. Os sambistas marginalizados, os que nunca gravaram CD...

Uma vez o meu pai tava com uma dívida muito grande, tava com dificuldade de pagar as prestações de um apartamento que ele comprou pra gente. Daí um belo dia a Ford ligou pra ele, convidando pra fazer um comercial. Era uma puta grana, dava pra pagar as dívidas e ficar bem tranqüilo por uns tempos. Meu pai não fazia comercial. Foi vender livro na rua. Nas portas dos teatros, nas portas das faculdades, nos bares. Foi vender livro na porta de teatros aonde se apresentavam artistas piores do que ele. Ele mesmo editava os livros, ele mesmo ia vender. E podia? Não. Não podia. Várias vezes ele foi expulso pelo "rapa" como um camelô comum. E ele chorava? "Perseguido, o caralho! Eu não sou nenhum mosca-morta. Eu fiz por merecer. Fui uma pessoa que aproveitou bem a fama. Eu apedrejei carro de governador, quebrei vidraça de Banco. Foi uma farra. Não teve mau tempo."
Tinha. Tinha mau tempo, mas ele não reclamava, eu nunca ouvi o meu pai reclamando da vida. Eu nunca ouvi o cara dizer que a vida tava difícil, ou que era "foda". Não. Ele só reclamava das injustiças. Ele berrava contra as injustiças, os preconceitos, a apatia.

Meu pai é o Plínio Marcos, porra! Bela merda, tem gente que nunca ouviu falar. Pra muitos era só um fudido que não deu certo na vida, andando feito mendigo pelo centro da cidade. Já morreu. Não era melhor do que ninguém. (Não?) .

Meu pai não me deixou apartamento, carro, dinheiro, bicicleta. Nem o chinelo dele me serve. Eu tive e tenho que ganhar o meu próprio dinheiro. E de tudo, isso era o que eu mais queria era ter dito:

"Pai, você não me deixou nada que se possa enxergar. Nem carro, nem apartamento, nem bicicleta, nem chinelo. Me deixou a sua indignação, um pouco do seu temperamento, a lembrança de ver você acordando todo dia com uma puta força de vontade, com uma puta vontade de viver, sempre alegre, sempre fazendo piada das próprias desgraças, sempre dando tudo que ganhava pros filhos, sem nunca acumular porra nenhuma. Pai, eu preciso te contar, no seu velório foi muita gente, pai. No seu velório, estiveram os maiores artistas do país. Médicos, políticos, advogados, empresários, fãs, gente do povo, crianças e os sambistas. Os sambistas cantaram sambas em sua homenagem, pai. Suas mulheres, seus amigos, seus inimigos, todos nós, todos nós te aplaudimos quando o seu caixão foi colocado em cima do carro de bombeiro. Você foi cremado, pai. Seus amigos fizeram discursos emocionados, disseram: "Plínio Marcos, um grito de liberdade!" Nós jogamos suas cinzas no mar de Santos. Na ponta da praia, onde você passou sua infância. O Jabaquara, seu time, ficou na porta do pequeno estádio, uniformizado, com a mão no coração, vendo o cortejo passar. O povo na areia batia no surdo e entoava um canto mudo no crepúsculo santista e nós no barco deixávamos você escorrer pelos nossos dedos como se você nem tivesse existido. Eu ainda quis te achar no meio do mar, mas de repente já era só o mar. E você foi, como todo mundo vai. É isso aí, pai: tanta gente te amava. Você sabia?
Mas, e eu, pai? E eu? Será que eu vou ter a mesma fibra que você? Eu não gosto de viver como você gostava. Eu não tenho a sua coragem. "A poesia, a magia, a arte, as grandes sabedorias não podem habitar corações medrosos." Eu acho que eu vou me vender, pai, eu acho que eu já sou um vendido. Eu só queria ser essencial, essencial como você. É difícil. Eu reclamo. A vida tá uma bosta! Tá difícil de encontrar pessoas essenciais, pai. As pessoas só falam e pensam no que é supérfluo. Eu não tenho assunto. Eu me sinto sozinho. Eu não sei sobre o que escrever. O mundo tá se destruindo, tem muita gente fudida, tem muitas festas e muita fome. Que indecência, pai, que vergonha que eu sinto desse tempo que eu vivo. Eu sei que você não tem saco pra choramingo, pai, mas me deixa desabafar, pai, só hoje, me deixa te falar sobre o sonho dessa gente, você sabe, essa gente, os "homens-pregos", fixos no mesmo lugar. Essa gente quer ter carro, pai, casa com piscina, essa gente quer ser rica e famosa, essa gente quer ser musculosa e quer ter bunda, essa gente diz que acredita em Deus e fode ele, essa gente não quer ser essencial, pai, essa gente... essa é a minha gente, pai, às vezes eu me olho no espelho e me acho parecido com essa gente.

Me perdoa.

Um beijo do seu filho, Nado, que ainda usa o nome artístico que a gente inventou juntos: Leo Lama.





...





Não, eu não tenho nenhum comentário dessa vez.

Paulicéia Desvairada




São Paulo é monocromática


Sem o charme dos filmes em preto e branco


Sem a poesia das fotografias antigas


Vermelha por outdoors fascistas


Que da noite pro dia tornam-se aquarelas às minhas vistas


Porque quando a gente acorda


Nossa cama é feito dia de sol com céu azul


E teus olhos são dois prismas


Filtrando luz


Arco-íris depois da chuva


São Paulo se enche de vida


Menina de faces rosadas


Corre arredia pela paulista


De vestido púrpura e laço de fita


Sopro de vida na cidade cinza




(Silvia Bandeira)

domingo, julho 20, 2008

Mulheres de Areia


E adivinha quem é a Raquel...

P.S


P.S 1 : Não, eu não sou a pelada do Charme da Paulista.
P.S 2 : Não, eu não tenho nada a ver com aqueles engradados vazios.
P.S 3 : Não, eu não gosto da minha orelha, embora pareça o contrário, já que (não-sei-como-onde-nem-porque) eu sempre tento dar um jeito de exibi-la nas fotos.

Laços

Hoje, extraordinariamente, aconteceu um lance bem bacana no meu domingo (dia oficial de não-acontecer-nada-bacana).

Uma amiga que eu não via desde 2006 (Sim, você está lendo o blog de uma pessoa que fica mais de dois anos sem ver as pessoas que ama e sobrevive) apareceu aqui em casa. Mas não é qualquer amiga, é daquelas amigas de beabá, de quadrilha na escola, de barbie, de primeiro beijo, primeiro porre, primeira transa. Daquelas amigas que tem gosto de infância-adolescência.

E é incrível como a vida nos afasta brutalmente das pessoas que amamos. Juntou uma porrada de coisas, trabalho, faculdade, casamento, e aos poucos fomos ficando sem tempo pra gente beber e falar bobeira, ir ao cinema e dormir no meio da sessão, ficar em casa morgando e ouvindo som... Mas o mais incrível é como a vida não desfaz certos laços.

Hoje quando eu a vi da janela no meu portão me bateu um frio na barriga, uma coisa meio "como será que a gente vai se comportar, que tipo de papo vamos ter pra bater, o quanto será que ela mudou", o tipo de frio na barriga que só dá quando se trata de sentimentos muito fortes. E lá fui eu abrir o portão, como se tivesse caminhando de volta pros meus 9-10-11-12-13-14 ... anos.

Abri o portão e, porra, foi como se a gente nunca tivesse passado um dia longe da outra. É óbvio que algumas coisas mudaram, dois anos é tempo pra caralho, mas o carinho era o mesmo. A mesma cumplicidade, as mesmas piadas, o mesmo jeito de alterar a voz, os mesmos palavrões, as mesmas gargalhadas estrondosas... É absurdo como algumas coisas que a gente constroe não tem porra no mundo que destrua. Não, o tempo não arranca o que a gente carrega na alma.

E quando ela chegou no meu quarto, e sem pedir licença ou fazer qualquer tipo de cerimônia, jogou meus travesseiros no chão como sempre fazia e se instalou, sentadinha no tapete em frente ao som, pra reclamar do quanto a madeira da minha cama fodia com as suas costas, eu tive certeza, que passe 80 anos, aquele lugar sempre foi e sempre será dela.

E eu nunca precisei dizer "eu te amo".





Me empresta a sua bota no próximo fim de semana, Ja??

"Amor do Caralho"

Que me perdoem os poetas e seus versos perfeitos, mas hoje eu quero falar do amor sem rimas, amor fodido, amor de puta-que-o-pariu, amor puto. Daqueles que não tem efeitos especiais, nem declarações capazes de fazer a terra tremer e muito menos jantares a luz de velas.

O amor que você sabe, não vai estar ali pra dormir abraçado todas as noites, nem pra lavar seus cabelos na hora do banho, nem pra te mandar flores no dia dos namorados. Mas vai estar ao teu lado quando a porra da sua vida-sacana virar de pernas pro ar, quando te cortarem a conta de luz, quando tua rinite atacar, ou quando seu cachorro morrer.

O amor que te diz o quanto você é idiota de ainda cometer os mesmos velhos erros e acreditar nessa merda de coraçãozinho rabiscado no papel.

É, é isso. Aquele amor cheio de palavras sujas e verdades na cara, porque um amor dos bons é aquele que não viraria propaganda de margarina, é aquele que não tem o "eu te amo" de todas as manhãs de café-da-manhã-feliz só pra camuflar o que não tá legal.

Foda-se os caras que já dormiram na minha cama e que me proporcionaram orgasmos incríveis e desejos incontroláveis, mas nenhum deles foi digno de ser o amor do C-A-R-A-L-H-O (é, desculpem o pleonasmo, foi inevitável) que eu cito nesse texto.

É desse amor tão digno que eu não abro mão. É por esse amor que eu brigo e xingo e resmungo e choro e quebro a cara e peço desculpas. É através desse amor que eu enxergo meus lixos e meus luxos. É nele que eu me vejo e me perco e me acho e me protejo e me curo. É o amor que me diz: "- Eu não vou passar a mão na sua cabeça, cretina." enquanto me aponta o caminho certo.

E é esse, sem nenhum romantismo e cheio de murros na parede, o único amor que me dá a certeza que eu posso ser o que eu quiser na vida, até mesmo a madrinha dos seus futuros filhos e melhor amiga da mulher da sua vida, sem que isso mude uma vírgula nesse "amor do caralho" que eu sinto por ele.

sábado, julho 19, 2008

A Língua

A língua


Ela disse (com os olhos)
- “Pode olhar”
(porque as mulheres conseguem falar com os olhos –antes de conhecer as mulheres eu não sabia que os olhos falavam)
E se mexeu daquele jeito, com aquele vestido que parecia uma língua
Porque não era um vestido, era uma língua
Lambendo aquele corpo daquele jeito só podia ser uma língua
(eu nunca imaginei que uma mulher pudesse vestir uma língua)
E fiquei com vontade de ser vestido
Porque aquele vestido estava lambendo aquela mulher
(graças a Deus eu conheci as mulheres: minha vida mudou depois disso)
E quando ela olhava para trás
Daquele jeito que eu aprendi que só as mulheres conseguem fazer
(eu não sou muito perspicaz, mas aprendo ouvindo e vendo)
Eu me sentia mal, eu me sentia mal, porque eu não sabia o que fazer
(só os atores de Hollywood sabem o que fazer numa situação dessas, daquelas,
e eu não sou ator de Hollywood)
Eu sou apenas um cara que quer ser língua
Quero dizer,
Vestido
Pra poder lamber as mulheres
Só isso
Minha ambição é ser vestido
Se é que posso chamar de ambição
Porque ambição requer – pode-se usar requer? – algo mais
Ambição requer ambição
Tipo aquele bicho que come o próprio rabo
(isso eu não aprendi com a mulheres, aprendi na escola mesmo)
Mas pensando bem (porque as mulheres gostam de homens que pensam)
Talvez eu tenha entendido mal
(porque eu aprendi a ler os olhos recentemente)
Quem sabe ela estivesse apenas, como direi,
Talvez ela estivesse apenas à vontade
Daquele jeito que só as mulheres sabem ficarà vontade
(se existe uma coisa que ambiciono – olha ela, a ambição, de novo -,
é saber relaxar como a mulheres)
Mesmo quando estão com uma língua
Principalmente quando estão com uma língua
(porque não é fácil estar com uma língua,
quem já conversou com alguém sabe do que estou falando)

(Douglas Kim)

"URGENTE"

Tudo aquilo que algum filho da puta diz que é 'URGENTE', sempre é algo que algum imbecil deixou de fazer em tempo hábil e quer que você se foda para fazer em tempo recorde.

(Rakhesh Vilmiintuchy - Monge Tibetano)

domingo, julho 13, 2008

Dignidade


Poderia ser sem-vergonhice, poderia ser exibicionismo, poderia ser excesso de álcool, poderia ser tesão, poderia ser faz-de-conta, poderia ser uma porrada de coisas na boca de pessoas que não entendem de amizade, cumplicidade e amor.
.
Mas o nome disso, meu caro, é dignidade.
.
Talita Amaro, A mulher mais limpa dessa minha vidinha suja.

Eis-lo

O cara que acha que a bunda dele não é digna de qualquer vaso sanitário.
O cara que me chama de Feike de X (não conto o porquê do x aqui nem fodendo).
O cara que diz que me odeia pra em seguida dizer que P-R-E-C-I-S-A de mim.
O cara que grita no meio do bar lotado que só me beija se for NO ROSTO.
O cara que tentou me matar com esse mesmo beijo citado acima (Sim, reparem na mão esquerda apertando o nó do meu cachecol discretamente).
O cara que me levou pra comer o pior provolone da minha vida.
O cara que me dá adeus todos os dias desde 16 de junho de 2006 e nunca foi embora. (Por falar nisso, alguém me explica se 16/06/06 é algum número cabalístico, assim, do tipo praga?)
O cara que diz que as minhas amigas são gostosas e eu sou apenas A Legalzinha.
O cara que, por conhecimento de causa, ainda vai escrever a minha biografia

Anjo, vulgo Rodrigo, o cara que eu odeio e com quem eu mantenho a relação mais ridícula da minha vida.


E que a gente passe a vida inteira alimentando esse ódio assim, desse jeito tão estranho e tão só nosso, amém.

Lixo ou luxo musical?

Que me desculpem os palhaços de plantão, mas música é coisa séria.


Eu sempre pensei que, assim como educação, a música tem papel fundamental na formação da personalidade de um ser humano.

Olho para as décadas passadas enquanto ouço da janela do meu vizinho de 8 anos um som estranho, alguma coisa como "tem que ter disposição..creuw" e fico me perguntando: - Que porra de adultos essas crianças vão se tornar?

Não, eu não estou sendo dramática, exagerada e pessimista, mas o que esperar de uma pessoa que acha Calipso o supra sumo da qualidade musical?
Por quais causas essa pessoa vai lutar? Que competência ela terá pra decidir o que é bom pro teu bairro, pra tua cidade, pro teu país? Que valor terá a palavra "criatividade" na vida dessas pessoas?

Eu não sou preconceituosa, talvez "pós-conceituosa", mas existe um abismo cultural gigante entre as pessoas que ouvem funk pornográfico e os que ouvem bossa-nova, rock, e até o velho samba de raíz. A conversa é diferente, o pensamento é diferente, a lógica é diferente. Eles não se contentam com pouco, eles exigem, eles pensam, eles refletem, eles criam, eles sabem que m aparece sempre antes de p e b.

Talvez seja o inverso, e gostar de boa música seja apenas a consequência.
Talvez seja falta de oportunidade.
Talvez seja as más influências.
Talvez seja genética (um dia a ciência explica por mim) o fator determinante pra essa aberração chamada "explosão da música do povão".


Mas por via das dúvidas, mandarei uma carta ao congresso pedindo mudanças na constituição:
"Todo cidadão tem direito a educação, alimentação, saúde e um CD do Tom Jobim."

sábado, julho 12, 2008

Música pra Ler II

A Queda
Lobão


Quantos sonhos em sonhos acordo aterrado
A terrores noturnos minha alma se leva
É um insight soturno é o futuro passando
Na velocidade terrível da queda
Ante o colapso final a vertigem
Próximo ao chão a penúltima descoberta
Que a lógica violenta das cores tinge
A velocidade terrível da queda
Como cair do céu é tão simples
Queda que a tudo e a todos transtorna
Ah! as bombas, a chuva, os anjos e seus loucos
O mundo todo na velocidade terrível da queda
Resvalando em abismos um pôr do sol furioso
Que a sensação de perda ao ver exagera
É o desespero vermelho de um apocalipse luminoso
Ejaculado da velocidade terrível da queda
Diante do medo um sorriso aeróbico
Nas bochechas a caimbra de uma alegria incompleta
Nada como um sorriso burro e paranóico
Para não perceber a velocidade terrível da queda
Para não perceber a velocidade terrível da queda

sexta-feira, julho 11, 2008

Tudo bem

Tem dias em que toda a nossa vida-louca-turbulenta-complicada-suja-imensa cabe em um simples abraço seguido de quatro palavras:

"-Vai ficar tudo bem."

Assim Assado

Porque ele é um mundo de vícios limpos.

.

Porque ele detesta cigarros e dispensa café pra se manter acordado. Porque ele é chato pra escolher cerveja mas não bebe vinho nem fodendo. Porque ele ouve blues pra se sentir feliz mas passa longe de micaretas. Porque ele dificilmente fala palavrão mas quando acha uma coisa bacana, acha do caralho. Porque ele gosta de jogos de palavras mas não gosta de gente que joga. Porque ele conhece as bandas mais desconhecidas do universo. Porque ele acha as mulheres mais bonitas sem maquiagem. Porque ele jura de pé (calçado com all-star-cor-berrante) junto que é discreto . Porque o que ele precisa nunca é o que ele quer. Porque ele sente prazer em ser do contra. Porque ele suja as mãos pra tentar se manter limpo. Porque ele se entristece com a crueldade das pessoas mas sabe ser cruel quando im-preciso. Porque ele só se emociona com poesias sem rimas. Porque ele não entende que algumas coisas são assim e outras são assadas... na fogueira. Porque ele não aceita histórias pela metade mas tem dificuldade em enxergar o óbvio. Porque ele é intolerante, estranho, implicante, mal humorado, agressivo, impulsivo, chato e confuso.


.

Porque ele assim, cheio de contrastes e sem nenhuma máscara, tem tudo o que não presta (De Nelson Rodrigues pro Mundo), inclusive a mim.

Eu não tenho tempo pra escrever no meu blog

Eu não tenho tempo pra escrever no meu blog. Eu não tenho tempo pra escever no meu blog. Eu não tenho tempo pra escrever no meu blog. Eu não tenho tempo pra escever no meu blog. Eu não tenho tempo pra escrever no meu blog. Eu não tenho tempo pra escever no meu blog.

Sete vezes que é pra dar sorte

.


Bendito os fins de semana que desanuviam minha mente corrompida.

segunda-feira, julho 07, 2008

A Lenda



E eu estava ali, naquele fusca branco.

"Se ela dança eu danço."


Quem conhece a origem dessa foto sabe que qualquer coisa que eu escreva aqui vai ser menos, bem menos do que ela merece.
.
Patrícia-Lisa-Maria-Galega-Diaba-Rainha-do-Bailinho: meu lugar.

domingo, julho 06, 2008

Conversas Pra Posteridade

Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: vc é daquelas pessoas que só fazem cocô na própria casa?

Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: eu confesso que sou

Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: ahahahahahhaa

Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: ainda mais depois daquela história da cobra que saiu da rede de esgoto

Amoxicilinada diz: não vou a casa dos outros pra cagar, né meu filho?

Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: eu sento no vaso com medo de algo comer meu pau

Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: não é por isso que nao faço

Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: nao sou educado a ponto de não cagar

Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: mas sim porque fico sem jeito... sei lá... só o meu vaso é que é digno da minha bunda

Amoxicilinada diz: "só o meu vaso é que é digno da minha bunda"

Amoxicilinada diz: FOI A COISA MAIS GAY QUE VC JÁ DISSE EM SEUS 27 ANOS DE VIDA

Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: naão...

Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: foi NO ROSTO

Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: minhas frases têm impacto pra posteridade

Amoxicilinada diz:Rodrigo

Amoxicilinada diz: se abra comigo...

Amoxicilinada diz: vc é gay mesmo?





Observações:

1- Percebam que o Rodrigo (Vulgo Anjo) me ama tanto que boa parte da nossa conversa se resume a ele me mandando mensagem feito uma hiena drogada louca (Adoro o termo "hiena drogada") pra dividir comigo suas aventuras

2- Reparem que a minha última mensagem-pergunta tem sua resposta na segunda mensagem do Rodrigo nesse diálogo:

"Amoxicilinada diz: vc é gay mesmo?
Rodrigo - aumenta o som do batitdão \o/ diz: eu confesso que sou"

3- Isso pq eu não contei a parte em que ele, do nada, diz que tem uma pomba no meio das pernas. E ainda tentou se defender:"- Pomba, minha filha! Rola. Pinto. É tudo ave."




Sim, meus amigos desabafam seus traumas intestinais comigo.

Dá pra entender agora por que eu sou meio pancada?

A convivência
A com vivência...

Um-Ano-Depois-No-Mesmo-Dia,

E eu já não estou mais com cara de hiena drogada. Quer dizer, eu mais ou menos já não estou com cara de hiena drogada.

Não se pode lutar contra a natureza.


(Gracias, Paulo Roberto. Por me provar , nessa foto que o "senhor" bateu sem aviso-prévio, que eu tenho orelhas de abano.)

Música pra Ler

Porra! E ainda tem gente que acha o cara brega...

Coração Selvagem
Belchior

Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção

Esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão
Eu quero um gole de cerveja no seu copo no seu colo e nesse bar
Meu bem, o meu lugar é onde você quer que ele seja
Não quero o que a cabeça pensa eu quero o que a alma deseja
Arco-íris, anjo rebelde, eu quero o corpo tenho pressa de viver
Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar
Que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar
Tempo para ouvir o rádio no carro
Tempo para a turma do outro bairro, ver e saber que eu te amo
Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente
Tome um refrigerante, coma um cachorro-quente
Sim, já é outra viagem e o meu coração selvagem
Tem essa pressa de viver
Meu bem, mas quando a vida nos violentar
Pediremos ao bom Deus que nos ajude
Falaremos para a vida: "Vida, pisa devagar meu coração cuidado é frágil;
Meu coração é como vidro, como um beijo de novela"
Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão
O meu som, e a minha fúria e essa pressa de viver
E esse jeito de deixar sempre de lado a certeza
E arriscar tudo de novo com paixão
Andar caminho errado pela simples alegria de ser
Meu bem, vem viver comigo, vem correr perigo
Vem morrer comigo, meu bem, meu bem, meu bem
Talvez eu morra jovem:Alguma curva no caminho, algum punhal de amor traído
Completará o meu destino, meu bem
Que outros chamam de baby...



( Só não vale chorar, Alê)

Das estranhezas do Mundo

Eu encostei a cabeça no ombro dele e sem que ele esperasse disse baixinho "o mundo anda muito estranho!". Ele passou o braço por detrás de meu pescoço. Ficamos assim por um tempo. "Posso dormir assim hoje?", pedi depois de uma longa pausa. Concordou, em silêncio. Fiquei pensando no mundo. Na estranheza de certas coisas. Ouvindo a respiração dele. Das estranhezas do mundo surgem coisas inesquecíveis, como eu dormindo com a cabeça no seu ombro depois de tudo. Fiquei olhando o teto do quarto, quase vi um céu azul com estrelas na parede mal pintada. Mundo estanho mesmo. Optei por ficar acordada com receio de que tudo passasse depressa demais. A coisas boas costumam passar depressa demais, sim, eu sabia. E aquela noite... aquela noite eu queria que, de uma forma ou de outra, durasse pra sempre...




Eu não sei quem escreveu esse texto e muito menos lembro de onde eu o roubei. Mas como roubado não é emprestado, faz-de-conta-que-é-meu porque ele foi feito pra ter sido escrito por mim.

É como se esse texto me olhasse e dissesse: "Mamãe!"

Caralho!

Caralho!


Eu não sei mexer nessa porra e não tenho ninguém pra culpar por isso.

Procura-se

Procura-se alguém que saiba postar fotos em blogs-de-gente-que-não-consegue-postar-fotos-em-blogs. Isso ou eu fico com essa cara de hiena drogada na única foto que eu consegui, sem-querer-e-não-sei-como, postar aqui.

O caso é de vida ou morte. E drama.

Tratar aqui.


Pelatenção, grata.

Resumo

Se você achou gigante o texto de apresentação sobre a minha "doce pessoa" e ficou com preguiça de lê-lo, significa que você é um grandissíssimo filha-da-puta que fica com sua bunda gorda na cadeira procurando coisas desinteressantes pra fuçar.

Mas eu sou boa o suficiente pra fazer seu domingo mais feliz.

Tudo o que é verdadeiramente importante saber sobre mim é que:

1 - Eu tenho medo de gatos.

2 - Eu detesto caju.

Aos Berros

Fernanda, libriana, 23 anos.

Impulsiva, indecisa, instável, intensa e injusta (sim, gosto de palavras que começam com in/im).
Dramática, egocêntrica, preguiçosa e sacana. Rainha dos micos em extinção e confusões inesperada. Desligada, totalmente desligada, daquelas que se pergunta o que está acontecendo sem saber que o que está acontecendo está acontecendo comigo.

Diz a lenda que eu só silencio três dias antes de cometer a maior burrada da minha-vida-da-semana. Toda semana.

Viciada em cigarros e cafés, o álcool eu estou eliminando da minha existência. Aos 23, decidi que só quero morrer de dois cânceres ( Mas antes preciso descobrir se câncer tem plural).

Apaixonada por cafés da manhã de hóteis, mas tanto e tanto, que só consigo definir se a noite foi boa no dia seguinte, fumando meu café e bebendo meu cigarro perto da janela (ou vice-versa). Me ensinaram assim na República.

Paulista fissurada pela cidade de São Paulo. Nenhuma praia do caribe bate a beleza do contraste dos prédios enormes e cinzentos fazendo sombra no céu azul da avenida paulista (Torcendo por dias de sol, pra esse clichê fazer sentido).

Odeio qualquer tipo de ostentação. Gente que come-dorme-respira dinheiro deveria morrer empalado por uma espada cravejada de diamantes. "Cadelinhas de Madame" me enojam.

Tenho um cachorro chamado Hugo que dizem, parece um ponei. Recentemente ele ficou preso na cerca do quintal tentando fugir de um gato. Eu também já fiquei presa na cerca do quintal, mas não conto do que estava fugindo. Provavelmente ele aprendeu comigo.

Sou anti-social e estranha, meus amigos dizem. Mas a verdade verdadeira é que sou chata. Não gosto de qualquer pessoa, nem de qualquer programa, nem de qualquer comida, nem de qualquer banda, principalmente de qualquer banda. Tenho certeza que o meu gosto musical é o melhor do mundo, e minhas roupas de dez-reais-de-brechó as mais estilosas do planeta, embora as pessoas insistam em dizer que eu sou apenas... estranha.

Chorei assistindo Pulp Ficton. Chorei lendo 1984. Chorei ouvindo I Want To Hold Your Hand. Mas não choro quando um parente ou amigo morre.
Chorei furando o nariz, mas não chorei quando fiquei 5 horas sendo furada por uma agulha quando fiz minha primeira tatuagem. Três meses depois tirei a porra do piercing. O buraco ainda não fechou.

Tenho tendência a lançar tendências de comportamento, embora as pessoas insistam em dizer (2) que é apenas meu umbigo crecendo mais rápido que o mundo.

Gosto de falar de assuntos interessantes. Sobre mim, por exemplo.
E gosto de situações descompromissadas.

Já me disseram que em pleno século 21 eu ainda vivo como se estivesse no Woodstock. Ou em qualquer quadrado que simbolize o sexo-e-amor-livre, só porque o meu conceito de lealdade e fidelidade é um pouco, assim, hum, é...assim. Bendito sejam meus poucos amigos que me perdoam por eles. Em todo caso, não me apresente seus namorados se eles forem músicos e/ou cineastras charmosos e frustrados. Se tiverem costeletas-barba-por-fazer-óculos-e-usarem-all-star, aconselho se fingir de morta pra mim pelas próximas 69 reencarnações. Embora (adoro a palavra embora, vai virar moda) não acredite nelas.

Não saio de casa sem óculos escuros. Choro em ônibus-trens-mêtros. Sempre esqueço alguma coisa em algum lugar. Incluindo pessoas.

Eu aprendi a perdoar na marra. Eu aprendi a me cuidar na marra. Eu aprendi a me calar na marra. Eu só aprendo na marra.

Meu melhor amigo foi o cara que me levou pro inferno pela primeira vez. Ele sabe disso. A gente só não sabe explicar até hoje como nos tornamos espelho um do outro. Quando ele me chama de pequena, o resto do mundo que se foda.

Tenho admiração gigante por um cara que é oposto do que eu sou e que me acha um lixo de mulher. Sinto vontade de um dia dizer isso a ele. Enquanto não chega esse "um dia", continuo lendo os textos dele e pensando "Puta Que O Pariu!"

O cara por quem eu mais chorei na vida morre de amor pelos seus cachorros e eu nunca consegui abraçá-lo. Nunca-Ainda.

Eu fui sacana com o cara que mais gostou e cuidou de mim. E foi aí que eu saquei que nem sempre a gente tem uma segunda chance e é preciso aprender a conviver com isso. Na marra.

Talita e Patrícia são nomes que rimam com a definição: mulheres da minha vida.
Já tive outras rimas, mas que, com o tempo e as verdades, destoaram do verso.
Tô descobrindo agora que o nome Camile rima com cumplicidade, e cumplicidade é a melhor rima pra amor.

Em público, eu demonstro odiar um dos meus melhores amigos. Mas defendo até a morte o direito que só eu tenho de poder ofendê-lo. É assim que gosto das pessoas que eu mais gosto. Nas farpas.

Algumas das declarações mais bonitas que já me fizeram foram comparações do tipo: Azeite quente escorrendo pela pia, solo rouco de saxofone, e rascunho de uma grande mulher que ainda não está pronta.
É, só a criatividade salva amém.

Boa parte da vida eu aprendo com Caio Fernando Abreu e Belchior. A outra parte eu aprendo errando e me fodendo. E a outra parte da outra parte desconfio que não vou aprender nunca.

Sim, a vida tem três partes. Aliás, acho que o melhor número pra tudo na vida é três.

Paixões cadelas. Amores putos. Caminhos tortos. Vícios incuráveis. Quereres intensos.

Isso e a naturalidade de se gostar de alguém.


"Eu te amo, seu filho da puta!"


A vida só faz sentido assim, aos berros.


Boa sorte e adeus.