domingo, janeiro 31, 2010

Tudo o que eu tinha pra dizer sobre você, sobre nós, eu escrevi. Eu disse em letras sublinhadas, que seriam em papéis de carta não fosse esse salto da tecnologia, da qual você entende tão bem.

As pessoas já sabem o que eu sinto, das minhas mudanças, do que nos tornamos juntos, embora ainda exista um estranhamento natural, principalmente por parte dos meus amigos, aqueles lá que me viram crescer com tantas convicções de relacionamentos egoístas, do tipo "eu vivo bem sozinha, e daí?"

Acho engraçado sair pra fazer compras com você e encontrar amigos de infância em filas de supermercado, apresentá-los a você e ver no rosto deles aquela cara de "O mundo está ao contrário e ninguém reparou". E depois sem o menor pudor, ouvi-los dizer que você merece um troféu por estar firme ao meu lado.

E a gente deixa pra rir disso mais tarde. A gente fermenta as nossas próprias piadas internas. A gente se diverte com nossas pedras no caminho. Isso é companheirismo, meu bem. E é lindo você saber desse meu lado escondido no meio de tantos princípios duros e "esquerdistas".

Desde o começo eu te disse que eu era difícil. Que eu era briguenta, estressada, cabeça dura, teimosa, egoísta. Te dei todas as cartas pra você sair da mesa, e você quis apostar até o fim. Acabou descobrindo um lado cúmplice que nem eu, nem ninguém sabia que eu tinha. Talvez esse lado tenha nascido quando eu te conheci. Ou talvez o tempo todo estivesse em mim, esperando o momento certo de explodir. E foi naquela tarde de domingo que ele lembrou que o mundo externo existe. E é bom pra caralho.

Esse estranhamento dos outros é também um pouco de estranhamento meu, quando me pego cheia de ternura te olhando cochilar na minha cama depois do almoço. E é essa "anormalidade" o que renova essa vontade absurda de sermos parceiros de uma vida. Provando pro mundo que não há dureza que resista a um olhar de amor.

Paty e eu conversávamos ontem sobre o quanto éramos menininhas inseguras e destrambelhadas até ontem. Estamos amadurecendo sem pular etapas, eu no meu tempo, ela no tempo dela, cada um por seus motivos particulares, mas juntas sempre. Ela agradece a você pelas mudanças na minha vida. Ela e todo o resto do mundo que sempre se pergunta em que esquina suja e perdida eu estaria hoje se não tivesse conhecido você.
Essa dúvida dos outros justifica todas as nossas brigas e desentendimentos por motivos que não valem uma história mal contada.

Enfim,

Todo esse blá blá blá, é só pra te contar do orgulho que eu tenho de você, e principalmente de todos os seus defeitos. Talvez sem eles, você não tivesse sido tão cabeça dura pra buscar, dentro de mim, as qualidades que nem eu mesmo enxergava e que faz a gente dar tão certo todos os dias.

Como disse uma vez Carpinejar,

Um dia que eu não divido com você, é um dia que eu não vivi.

Um beijo e uma vida, meu bem.

domingo, janeiro 17, 2010






Sorte de quem entender essa foto, porque a vida só tem graça com a cumplicidade das piadas internas.



.

sábado, janeiro 16, 2010

Oi, quanto tempo! É, pois é, e lá se foi mais de 5 anos da última vez que nos vimos. Como você tá? Ah, eu tô bem, talvez eu esteja passando pela melhor fase da minha vida. Ah, você sabe, eu não sei dividir as áreas. Ou eu estou bem em todos os campos da minha vida, ou eu estou mais ou menos em todo lugar. É bacana ver que você finalmente aprendeu a escutar os outros. Vou aproveitar e falar bastante das coisas que você não teve tempo de saber antes que tudo volte ao normal. Escuta aí,

Eu tô namorando, sabe? O Airton. Um cara bacana, o cara mais bacana que eu já conheci, e estranhamente, as vezes eu tenho a impressão que os meus amigos e familiares gostam mais dele do que de mim. Já tem mais de um ano, e as pessoas até hoje não acreditam que ele está me suportando por tanto tempo. Temos planos. Acredita nisso? Eu, agora faço planos. Quer dizer, eu e uma garota lá de BH que eu conheci na internet e que se tornou a minha melhor amiga. Fazemos planos juntos pra metade do mundo, não é inacreditável? Patrícia é o nome dela. Dizem por aí que eu virei mulherzinha, deve ser influência dela, que parece uma boneca. É, eu sei, não tem nada a ver comigo, mas é que sabe, eu cansei um pouco dessa vida de submundo, de luzes neon e jukebox o tempo todo. Sou do dia agora. Quem diria...

Continuo trabalhando com o que eu não gosto, mas ganho um pouco melhor agora, e fiz amigos de verdade no meu trabalho, o que me faz esquecer um pouco a merda de não ter saco pros pepinos alheios que eu tenho que descascar. Não acredito mais em deus, mas morro de medo dos espíritos. Vou começar a frequentar umbanda mês que vem, acho que me familiarizei com os colares.
Nessa você não vai acreditar, não pareço mais uma drag queen. Não uso mais maquiagem, não saio mais de casa parecendo uma árvore de natal e não uso mais salto. Pasme! Nem cabelo loiro, comprido e chapado eu tenho mais.

Lembra que eu sempre tive o dom pra escrever mas nunca o levei a diante? Pois é, agora eu boto no papel todas as minhas "inspirações mirabolantes", e olha, tem até gente que lê e gosta. Viciei no Caio Fernando, um escritor gaúcho que morreu de aids. Você conhece? Hum, acho que não, nem Clarice Lispector você conhece. Não, não tô te "tirando" de burro não. Eu sei que seu negócio sempre foi música. Aliás, tenho que te agradecer, suas influências musicais me acompanham até hoje, só filtrei e aprimorei um pouco mais de tudo o que você me ensinou.

Continuo branquinha, você sabe, vou morrer sem me tornar amiga das marquinhas de biquini. Tirei o piercing. Emagreci uns quilinhos aí, as pessoas dizem que é porque eu estou sendo bem amada, e amor emagrece. Pode ser, não lembro de ter sido tão bem amada assim, em toda a vida.

Desculpa, vamos mudar de assunto.

Meus pais estão bem, velhinhos com doenças de velhinhos, mas estamos juntos, o que é o mais importante. A Suzy morreu, tenho outro cachorro agora, o nome dele é Hugo. Coisa mais manhosa do mundo, embora digam que ele é apenas gay.

Continuo odiando gatos. E peixes. E caju.

Durante esses anos, fiz amigos por toda a parte do Brasil, até um amigo maranhense eu tenho, acredita? Ihhh, tantos amigos que você não teve tempo de conhecer. Rodrigo, certamente, iria te odiar. Você acharia a Talita uma mulher interessante, um mulherão, pra ser bem sincera. Mas eu também tenho as minhas dúvidas se ela gostaria de você. Aliás, pouca gente gostava de você, né? E muito menos gostavam da gente junto.

Michele continua namorando o Ronaldo. Vanessa teve uma filha e eu viciei mesmo nessa porra de cigarro, como você disse que aconteceria quando me viu fumando pela primeira vez.
Acho que só voltei ao Baratotal três vezes nesse tempo. É estranho, as pessoas me cumprimentam como se lembrassem da época em que eu era a "rainha da cocada preta" por lá. Mesmo que eu já não seja mais loira, nem mais tão perua, nem mais tão oferecida. Sei lá, acho que eu virei mulher. E isso deve chamar mais a atenção do que qualquer tipo de "putinha". Eles me paqueram mais agora, sabia? Mas eu não dou bola, já achei o peito certo pra dormir.

Faz tempo que eu não vejo o "pessoal daquele tempo", mas sempre que eu os via, eles me perguntavam de você. Eles sempre esquecem que o tempo passou. E pra dizer a real, eu tenho medo que você tenha esquecido também. Tenho medo que você continue com aquelas idéias erradas de que um dia a gente vai acabar junto e estrague a vida bacana que eu construí sem você.

Sabe, eu sofri muito no começo, mas hoje eu quase não lembro de como era a gente junto. As vezes bate uma nostalgia de quando éramos o casal da noite, e você encrencava com todos os caras que olhavam um pouco mais insinuante pra mim. Mas é como uma espécie de saudosismo da época em que eu era uma adolescentezinha fútil e achava que o mundo se resumia as minhas pernas grossas e minha barriga chapada. Não que eu tenha saudade, eu apenas acho graça lembrar do quanto eu mudei longe de você. Do quanto eu cresci sem você pra me achatar. Do quanto eu amadureci sem você pra me podar. Não, não estou te criticando. É o teu jeito de tratar as mulheres por quem você se apaixona. Essa coisa meio James Dean, que atrai pra logo em seguida afastar. Tem lá seu charme, gato. Deve ter um monte de garota morrendo por você nesse exato momento. Eu mesmo já achei o máximo, mas como eu disse em outros lugares, aprendi que bad boys só são bacanas em filmes, ao menos pra mim.
Tomei gosto pelos mocinhos. Finalmente descobri que eu mereço ser bem tratada. Pra ser mais clara, tomei gosto pela leveza que só a segurança proporciona. Cansei de andar na corda bamba. Aboli o salto pra andar com os dois pés no chão e olha, pela primeira vez, eu vejo flores no caminho.

E pra terminar, talvez doa um pouquinho em você, esse lance de mexer com os brios e tal, mas eu preciso dizer antes que a gente não se veja nunca mais,

Eu não lembro de ter sido tão feliz em toda a minha vida.



Ah, eu continuo morando na mesma casa. E continuo mal humorada, grossa e anti social. Portanto, eu espero, de verdade, que você nunca me visite.

É isso.

Hoje faz 10 anos que a gente se conheceu, e eu precisava te agradecer por tudo o que você me ensinou, e principalmente, por tudo o que eu aprendi sem você. Definitivamente, essa foi a melhor parte da nossa história.

Com carinho,

Fernanda.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

O ano começou com algumas pequenas decepções cercadas de muita certeza de que a vida é isso aí mesmo, altos e baixos, tristezas e alegrias, planos e promessas, cansaço e disposição, feridas e curas e uma infinidade de coisas que fazem parte da nossa história.

Pois é, meu povo, nem tudo é do jeito que queremos, e nem todos são do jeito que esperamos. E sei lá, continuo achando que as histórias mais bonitas são as mais imprevisíveis.

Cada vez mais eu me convenço que o interessante não é uma história que começa bem e acaba melhor ainda, é uma história construída com a verdade dos não-roteiros.

A vida é tudo o que não permite ensaio. Acho que é isso.
Onde algumas lágrimas despercebidas ensinam mais que mil sorrisos forçados.

E como fã de bom dramalhão mexicano, eu nunca gostei de sentimentos que não causassem dor. Alguns podem considerar uma espécie de masoquismo emocional, mas por mais contraditório que pareça, eu nunca conheci outro tipo de amor que não fosse o incondicional.

E pra continuar o mantra,

Sim, eu tenho muita sorte na vida.