terça-feira, abril 21, 2009

Quando vem a primeira queda, o nosso mundo acaba por alguns instantes, algumas horas, alguns dias, ou pelo tempo que levamos pra levantar. A dor é desumana, gigante, absurda, como se arrancassem cada centímetro da nossa pele e nos deixassem apenas ossos e sangue sob nossos orgãos desprotegidos e expostos. O primeiro pensamento é de fim, como se tudo que construímos e que nos tornamos antes da queda tivesse, finalmente, se transformado em fumaça. Passamos a vida, "pessimistamente", esperando isso, o dia em que tudo vira fumaça.

Mas aí a gente levanta, algo sempre acontece pra nos sentirmos obrigados a sair da posição confortável do "não tenho mais nada, não espero mais nada" e a gente volta a caminhar. É difícil reaprender a andar depois da primeira queda, mas é do ser humano a superação.

Aí quando começamos a reconstruir das cinzas uma nova estrada, vem a segunda queda. Essa costuma ser menos dolorida, menos o fim do mundo, é a queda que já esperávamos, que já sabíamos que um dia viria, e já conhecíamos a devastidão que ela seria capaz de causar. É a famosa dor conhecida. Você sabe onde dói, sabe o quanto dói e sabe que vai superar. Doença antiga, que não se pode evitar, quase uma amiga de colégio.

Não que seja fácil superar a segunda queda, só estamos mais preparados pra todo o estrago que ela causa. A volta por cima costuma demorar menos.

Aí vem a pior parte, a terceira queda. Não deveria ser a pior, mas é. É aquela sensação que quase já faz parte da nossa identidade. Sabemos tudo sobre ela, inclusive os motivos que nos levaram a cair. Somos capazes de fechar os olhos e saber exatamente onde está cada ponta da ferida. De saber quais passos nos levaram para o buraco, em que momento nos posicionamos em frente ao precipício.

Por nos sentirmos tão intímos da terceira queda, nos proibimos de sofrer toda a dor que ele trás. Estamos tão calejados que sentimos vergonha de gritar, chorar, mesmo que a dor continue sendo a mesma das outras quedas, pelo medo idiota de parecermos fracos e repetitivos. E engolimos o sofrimento como se tívessemos cancer e tomassemos um anti-ácido pra resolver o problema.

E aí, meu amigo, aí acontece a merda toda. A dor mais latente é aquela que não nos permitimos deixar doer. A fuga da dor só mascara o tamanho da ferida. E feridas abertas costumam ser ninhos de moscas.

Um comentário:

H L disse...

Meu Deus, como eu me identifiquei com esse texto. Cada vírgulaa!!
Tá perfeito!
Parabéns!!!!
Virei aqui mais vezes...


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