quinta-feira, abril 02, 2009

E foi assim, ó

Eu tava numa fase forte de noites de divina e cafés da manhã de maquiagens borradas com Martina e Gabi. Aí, veio o Rodrigo me chamando pra assistir a final do São Paulo lá na puta que o pariu do Tatuapé. Era domingo, dia mundial de não aprontar nada que te deixe estragado no dia seguinte, mas tinha cerveja gelada aí eu fui, mesmo sendo corintiana. Culpa da minha fase "Tô nem aí", oras.

Aí, no meio de uma porrada de coisas inusitadas e bizarras ocorridas no bar durante o jogo, eu o vi. Ele não me viu, a maldita desatenção é a marca registrada dele, fazer-o-que?, assim como a minha insistência, e óbvio, olhei mais uma vez. Mas foi aquele olhar de mulher que não quer compromisso, que só acha gostoso encarar pra ver qualéqueé, pra curtir uma tarde de domingo sem boas intenções. Culpa da minha fase "Tô nem aí", oras. (2)

Só não pensei que talvez essa não fosse a mesma fase dele. Eu já disse que, as vezes, só o impulso salva-amém?

Pois.

Entre mortos e feridos pelo jogo, ele veio falar comigo, e pasmem!, quando eu esperava um "E aí gatinha, tá afim de ficar comigo?", ele chegou falando de música, cacete. Meu ponto fraco-forte. O curto papo em pé na calçada de um boteco sujo do Tatuapé foi bacana, confesso, mas eu não tava no clima de levar nada bacana adiante. Culpa da minha fase: "Tô nem aí", oras. (3)

Mas, in ou felizmente, meus pais me ensinaram a arte da boa educação, e num espasmo de obediência ao papai e a mamãe, o chamei para sentar comigo na mesa dos meus amigos. Nessa hora eu pensei "Bom, se existe alguma chance de rolar algo, vai acabar agora. Meus amigos são chatos demais com gente nova no pedaço, é por isso que são meus amigos." Mas o tiro saiu pela culatra. Em menos de meia hora ele já parecia mais amigo dos meus amigos do que eu. Merda!

Ele pediu meus números de telefone. E me fez repetí-los para ter certeza de que eu estava dando os números corretos. E agora?

Comecei a falar sobre política e religião, exatamente os assuntos proibidos num primeiro encontro. Ele tinha um jeito de burguesinho-cristão, nada melhor que enfatizar meu lado socialista-ateu. É, nada feito. Ele conseguiu manter o nível da conversa, sem perder a calma nem por um segundo, e o pior, parecia absurdamente interessado nos meus pontos de vista.

Bom, só havia uma última saída, usar todo o meu drama e dar um xilique típico de meninas mimadas que querem chamar a atenção. Criei uma cena e fui embora do bar, deixando-o falando sozinho na mesa. Nenhum homem suporta isso. É, ele suportou. E riu a risada mais carinhosa do mundo quando me viu voltando pra perguntar porque ele não tinha vindo atrás de mim.

Eu fiquei. Meus amigos foram embora e eu fiquei. Fiquei com ele. Mesmo querendo não estar nem aí, alguma coisa que eu não sei o que é até hoje, me fez ficar. Na volta pra casa me perdi, cheguei quase as 4 da madrugada de segunda, pronta pra acordar as 7. Eram três horas de sono, eu sabia. Mas e quanto as horas de espera, quantas seriam?. Será que ele vai ligar? Quase não deu tempo de sofrer por isso, antes de chegar em casa ele já havia me mandado a mensagem mais doce que uma pessoa bêbada poderia mandar pra alguém.

Eu juro que tentei bancar a desinteressada, tentei arrajar mil defeitos, mil pedras no caminho, mil problemas na minha vida. Tudo pra ele desencanar de me ver novamente e eu continuar a minha saga do "Tô nem aí", oras. (4)

Mas quando o vi pela segunda vez, no fim de semana seguinte, teve um momento em que a única coisa que eu conseguia pensar era "Fodeu!", lembro perfeitamente em qual instante eu tive a certeza de que eu não conseguiria mais afastá-lo da minha vida. Não por insistência dele, mas pela minha vontade de tê-lo ao meu lado.

E desde então, naquele bendito instante daquele bendito segundo encontro, eu quase morro toda vez que eu lembro que o meu arrogante "Tô nem aí", oras. (5) quase me fez perder o direito de reclamar das mordidas mais docemente irritantes que eu já levei na vida.

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