sábado, março 07, 2009

Nós, seres humanos, somos um povo acostumado a viver sob ditaduras, sejam elas veladas ou explícitas. Ditaduras políticas, econômicas, sociais, culturais por mais absurdas que sejam são até "toleráveis", já que, algo enraizado nos costumes da civilização por séculos não se consegue eliminar de uma hora pra outra. O problema é que, se já não bastasse tantos não podem, não devem, é feio, é ilegal atormentando a nossa cabeça, temos agora o fantasma da ditadura estética atormentando nossos pneuzinhos, tão charmosamente aceitáveis anos atrás.
A moda é ser magra, quer dizer, a moda é ser doenticamente magra. E ai de quem ousar a enfrentar, de peito aberto, esse padrão. Estará sujeito a ser mais ridicularizado e penalizado do que foram nossos estudantes anarquistas na época dos militares.

O problema é que, dessa vez, a luta não é contra inimigos de carne osso, a luta é contra o espelho, a calça jeans tamanho 36, o biquininho cavado e todos esses objetos inanimados que parecem mais cruéis que terroristas mulçumanos com armas nucleares nas mãos.

Pode parecer bobagem dito nesse tom, mas a verdade é que há alguns anos esse culto a magreza parou de ser cômico pra se tornar trágico. E não há nenhuma arma poderosa ou estratégia de ataque que tenha se mostrado capaz de destruir esse novo padrão de ditadura.

Centenas de mulheres ricas e poderosas aparecem, por ano, na mídia exibindo seus 30 e poucos quilos como se fosse uma espécie de troféu por conseguirem se encaixar no tão sonhado padrão, ao mesmo tempo em que, centenas de mulheres nem tão ricas e nem tão poderosas morrem, por ano, exibindo seus 30 e poucos quilos como se fosse uma espécie de troféu por conseguirem se encaixar no padrão, mesmo que para isso tenham também, que se encaixar no caixão.

É lamentável ver mulheres saudáveis, bonitas, inteligentes, com uma vida de oportunidades inteira pela frente, sucumbir a idéia de que a felicidade esteja diretamente relacionado ao IMC abaixo dos 20. E o mais lamentável é perceber que a sociedade em que vivemos apóia e bate palma pra tamanha idiotice, como se a capacidade de uma mulher fosse medida pela numeração de sua calça jeans. Ah sim, há algo ainda mais lamentável. Lembrar que essa mesma sociedade é formada por duas fatias do bolo (com o perdão do pleonasmo). A primeira é formada por pessoas que abraçam essa ditadura do alface, e que acabam por darem mais importância ao ponteiro da balança do que a própria saúde física, e a segunda, formada por pessoas que passam a vida tentando e não conseguem se encaixar no padrão estético ISO 2000, e que acabam por darem mais importância ao ponteiro da balança do que a própria saúde mental.

Já está mais do que na hora das pessoas se livrarem do peso (opa, outro pleonasmo) de refeições servidas em pratos de culpa regadas ao molho de paranóia. Comer saudavelmente não é sinônimo de passar fome. E ossos saltados não significam beleza absoluta.

Ou isso, ou seremos obrigadas a tomar uma medida drástica. Saíremos as ruas com nossas barriguinhas, pneuzinhos e culotezinhos pintados de verde e amarelo clamando pelo direito de continuarmos sendo apenas o país da bunda grande.

Lembram dos caras pintadas? Pois é, quem sabe...

Um comentário:

Airton Marinov Jr. disse...

Triste, mas é a mais pura verdade!