sábado, março 07, 2009

Era início de verão, ou fim de primavera, tudo sempre depende do ponto de vista.

Prefiro optar pelo início de verão porque sempre me senti atraída por começos. Era um dia sem sol e sem chuva, mas nem por isso sem charme. Se viram pela primeira vez sem a proteção dos céus e a poesia do vento, num ambiente, digamos, tumultuado. Ninguém precisa de proteção dos deuses quando se tem vontade, pensaram quase instantaneamente.

Teve um abraço, um abraço esperado há alguns meses. Um abraço de quem já se conhecia mesmo sem se conhecer e um encantamento que só as expectativas trazem.

Conversaram com palavras, toques, cheiros e gostos, quase como uma urgência da alma. Era importante que fosse assim.. Era preciso.

Não tiveram tempo de pensar no que havia sido antes, nem no que haveria de ser depois, não quiseram pensar, não conseguiram. Algo daquele momento os preenchia de uma forma que não deixava espaço pra nenhum outro pensamento, senão estar ali, à sorte do que estavam arriscando viver.

Era certo que naquele momento existia sintonia, que existia carinho, que existia tesão. Assim como era certo que não existiam planos pra depois daquele encontro. E era exatamente essa certeza que os fazia tão vivos e intensos naquele instante. Tenho pra mim que todos os encontros, todos os gestos, todas as ações, deveriam ser assim, concentradas no tempo exato em que acontecem.

Caio Fernando adora usar a expressão “Estou te querendo muito bem neste momento”, e acho, de verdade, que é o único jeito de se viver por inteiro uma situação. Neste momento é quase uma declaração de entrega sem cobranças. É quase a tão sonhada liberdade da ausência de esperança assustada e insegura pelo que virá depois.

E foi assim que aquele verão começou para os dois. Sabiam que não seria o início de uma história de amor, mas a verdade é que não pensavam em saber o que seria. Não se importavam em dar nomes ou condições ao que estavam vivendo. E viveram. Intensamente viveram.

Sempre vi o outono como a estação mais poética de todas. Aquela das mãos dadas, dos ventos que levam e trazem momentos com a suavidade de um beijo na testa. Em contrapartida, nunca me interessei muito pela magia do verão. O sol escaldante e as pessoas assumidamente mais nuas e mais falsamente dispostas. Mas aquele início de verão foi diferente, veio com um gosto de outono, um gosto de ninguém precisa parecer absurdamente feliz pra estar absurdamente feliz. Gosto de pensar que algumas coisas acontecem, marcam e ficam sempre guardadas. Assim como o cheiro do outono dando bom dia em pleno verão. Mesmo com todo o calor insuportável das praias é impossível não pensar na dança das folhas saltando em algum gramado de sombra convidativa.
Viver assim, neste momento, talvez signifique nunca ter um raio de sol guardada dentro de uma caixinha na cabeceira da cama, mas quem já dormiu sob a luz da lua e o barulho do vento acariciando o rosto aprende a fazer seu próprio calor, mesmo cercado de neve.







Pra Paty. Ela sabe.

Um comentário:

Airton Marinov Jr. disse...

Sensacional! Minha escritora favorita!