sábado, agosto 07, 2010

Ela me disse, casualmente, que havia notado a mancha de sangue na minha camisa.
Disse a ela: "Não se preocupe, não é nada." Ela respondeu: "Eu não tô preocupada."
Resmunguei: "É melhor assim."

Achei que podia me divertir um pouco assistindo uma luta de boxe na tv. Tirei a camisa manchada de sangue e joguei no tanque. Ela vestiu uma micro-saia e saiu pra rua. Abri uma cerveja e resolvi esperar.

Os ponteiros do relógio eram guilhotinas no meu pescoço. Quando ela voltou, não falei nada. Fiquei no escuro vendo ela se mexer, deixando cair sua saia. No caminho pro banheiro deixou a luz acesa e ouvi o barulho, não vou usar de eufemismos nesse momento pra dizer o que ela estava fazendo. Somos um casal com tempo de serviço, nossa indiferença mútua provava isso, meu enorme peso no sofá atestava isso.

Ela acendeu um cigarro no escuro da sala e a chama do isqueiro fez com que ela me notasse. "É mais difícil do que você imagina", ela disse. E o seu desprezo me acertou como um blefe de pôquer.

Ainda ficou um tempo olhando pra mim antes de vencer o orgulho e perguntar:
"O que era a mancha na sua camisa?"
"Já disse. Não é nada. Não precisa se preocupar"

Ela soltou um foda-se e foi pro quarto, deitou e ficou fumando olhando o teto. Levantei e fui até o banheiro. Cambaleei e tive que me apoiar na porta. Abri o armário e peguei o mercúrio cromo.

Ou você não sabia que a maioria das histórias de amor terminam com alguém limpando as feridas?


É um poema, mas acho mais verdadeiro assim, sem muitas pausas. Bortolotto que declamou pra mim.

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