sábado, setembro 06, 2008

O Não Romantismo

Cena I: Hora do café com gelo.



Rapaz sentado na mini-cozinha pensando na vida. Moça se aproxima, puxa um banquinho e se senta de frente para o rapaz.

Moça sente dor nos dedos da mão, rapaz pede pra ver a mão da moça. Rapaz se aproxima mais da moça e com as mãos começa a fazer movimentos suaves nos dedos dela.



Cena II: A desavisada.



Eis que entra pela porta da mini-cozinha sem bater, a moça da limpeza. Ao se deparar com a cena do rapaz inclinado segurando a mão da moça, a moça da limpeza imagina estar presenciando um pedido de namoro-noivado-casamento, e se comove. Não por muito tempo, já que ambos, o rapaz e a moça, caem na gargalhada.

A moça da limpeza sai de cena sem entender lhufas, achando bizarro o comportamento daqueles dois.



Cena III: A pior declaração do século.



Ele continua com as mãos no dedo dela, ela diz que aquele cuidado com a dor dela foi a coisa mais linda que ele já fez. Ele responde que faria por qualquer pessoa que estivesse com dor. Eles ficam em silêncio. Ela diz que só queria que ele gostasse dela como ela gosta dele. Novamente, silêncio. E ela, percebendo o constrangimento, tenta consertar, soltando a mão e dizendo:



- Assim, quando eu disse gostar, não disse gostar do jeito que uma mulher gosta de um homem, eu quis dizer que é a sua personalidade que me agrada, sabe? É isso, eu gosto muito da sua personalidade.

- Eu também gosto muito da sua personalidade.



Ambos caem na gargalhada mais uma vez, ao perceberem, no mesmo instante, que é muito mais fácil dizer que se gosta da personalidade de alguém ( mesmo sendo algo ridículo de se ouvir) do que dizer apenas que se gosta de alguém, sabendo que no fim das contas, é o verbo que importa.



Gran finale

Eles voltam pro trabalho, com a sensação de que algumas pessoas não nasceram pro romantismo, e que isso, bem, isso não faz a menor diferença.

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